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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Conveniência eleitoral

Proposta de Dilma para o setor aéreo é a mesma apresentada por Serra e rechaçada pelo PT


Na sua primeira análise de conjuntura de 2011, o Instituto Teotônio Vilela (ITV) critica a contradição do novo governo ao anunciar que irá editar medida provisória para conceder à iniciativa privada a construção e a operação de pelo menos dois dos principais aeroportos do país.

“É a mesmíssima proposta que José Serra defendeu na campanha de 2010 e que abraçara desde que governava São Paulo. Levada pelo então governador ao presidente Lula, foi rechaçada – com apoio de Dilma, diga-se”, destaca o texto. Segundo a mesma análise, tanto Lula como Dilma repetem práticas do PT “ao fazer no governo aquilo que antes criticavam, na maioria das vezes por puro oportunismo e conveniência político-eleitorais”. Leia a íntegra do artigo “Ser ou o nada”:

Em seus primeiros discursos já como presidente empossada do Brasil, Dilma Rousseff pareceu buscar certo distanciamento de seu tutor. Será ótimo para o país se assim for: o governo poderá sair de cima do palanque onde esteve aboletado nos últimos oito anos para ganhar a sobriedade necessária para enfrentar as graves questões nacionais.

A primeira delas é a preservação da estabilidade econômica. Na posse, a nova presidente disse que se trata de “um valor absoluto” a ser rigorosamente mantido. É uma conversão e tanto para quem até pouco tempo atrás não via na escalada dos preços um dos males mais deletérios para o bem-estar social – nunca se deve esquecer a ferrenha oposição petista ao Plano Real, que extirpou a hiperinflação do nosso convívio.

Embora, como era de se esperar, Dilma não tenha admitido em seu discurso, o governo dela começa com um desarranjo de dimensões consideráveis nas contas públicas, agravado pela espada da “praga” da inflação rondando a cabeça. O índice oficial de preços referente a 2010 deverá encostar no teto da meta prevista para o ano passado, ou seja, 6,5%, a julgar pela prévia conhecida nesta manhã. Carece de remédio.

Não é a única herança maldita de Lula para sua pupila. O governo dele terminou apresentando o pior saldo comercial em oito anos e o pior resultado fiscal para o governo central desde 1998. Isso diminuirá a margem que o novo governo tem para, como Dilma anunciou nas semanas entre a eleição e a posse, diminuir a taxa de juro real brasileira. No próximo dia 19, o Copom deve fazer o contrário, elevando a Selic para diminuir o ímpeto inflacionário. Nota-se, pois, como discurso e prática diferem.

Na posse, a nova presidente acenou à oposição e às parcelas da sociedade que não votaram nela nas eleições do ano passado. Para tanto, parece disposta a renegar algumas de suas crenças recentes, distanciar discurso pretérito e prática presente. É o caso da inflação, mas é também do que pretende fazer para destravar o setor aéreo nacional, a julgar pelo que a Folha de S.Paulo publica em manchete em sua edição desta segunda-feira.

Informa o jornal que a nova presidente deverá editar medida provisória para conceder à iniciativa privada a construção e a operação de pelo menos dois dos principais aeroportos do país: Cumbica, em Guarulhos, e Viracopos, em Campinas. É a mesmíssima proposta que José Serra defendeu na campanha de 2010 e que abraçara desde que governava São Paulo. Levada pelo então governador ao presidente Lula, foi rechaçada – com apoio de Dilma, diga-se.
Como se pode ver, num ponto não há novidade na Dilma que chega agora ao poder máximo da República e seu antecessor: ambos repetem práticas de seu partido ao fazer no governo aquilo que antes criticavam, na maioria das vezes por puro oportunismo e conveniência político-eleitorais. As bravatas petistas de sempre não deixaram de existir.

Se é bom que a nova presidente esteja ensaiando passos autônomos em relação a Lula, é melhor ainda que ela abrace as causas da racionalidade, da moralidade e da ética no trato da coisa pública, como prometeu nos seus discursos de posse e suas primeiras intenções administrativas parecem sugerir.

A chance de o país avançar está na distância entre o governo que acabou no fim de semana e no que terá quatro anos pela frente para mostrar a que veio. Em muitos aspectos, este precisa ser a antítese daquele. A mesma distância separa as chances de Dilma Rousseff ser alguma coisa ou ser mera sombra, um nada.



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