"Desfrute da viagem da vida. Você só tem uma oportunidade, tire dela o maior proveito."

domingo, 31 de janeiro de 2010

Charge

Denúncia! Como montar uma pesquisa fajuta para desempacar a Dilma.


Na pesquisa da Vox do Lula, o segundo turno já está decidido. É ou não é uma piada fazer uma pesquisa com quatro candidatos e medir apenas um cenário?

Dá para entender a demora da Band para publicar a pesquisa da Vox Populi que a imprensa nacional simplesmente desconheceu. Deve ser vergonha na cara. Um resto que ainda resta. No site do Tribunal Superior Eleitoral está o registro da pesquisa. Uma amostra realizada em 122 municípios e aí está o escândalo. Os municípios foram escolhidos a dedo, meticulosamente, dentro de redutos eleitorais de partidos da base eleitoral de Lula. Atenção!

Denúncia 1! Dos 122 municípios que compõem a amostra da Vox Populi, apenas 27 têm prefeituras oposicionistas, do PSDB, DEM ou PPS. Apenas 22%. A oposição elegeu 27% dos prefeitos, quase 25% mais! Atenção!

Denúncia 2! Em 45 municípios, ou 37%, além das prefeituras serem governistas, não houve um só candidato da oposição. Em um terço da amostra não houve oposição nas últimas eleições municipais. Atenção!

Denúncia 3! As cidades escolhidas pela Vox Populi que têm prefeitos oposicionistas tiveram férrea disputa eleitoral ou são pequenas e inexpressivas cidades. É uma vergonha estatística. Observem, por exemplo, a amostra do Rio de Janeiro, onde a Vox Populi conseguiu que Dilma Rousseff ultrapassasse José Serra. As cidades escolhidas foram Campos (PMDB), Nilópolis (PP, sem oposição em 2008), Niterói (PDT), Nova Iguaçú (PT, sem oposição nas eleições de 2008), Paraíba do Sul (PMDB), Rio de Janeiro (PMDB), São João do Meriti (PR, sem oposição em 2008) e, finalmente, um município oposicionista: Resende, onde o DEM venceu uma eleição dificílima, com placar embolado. Não há município governado por tucano na amostra da pesquisa e não surpreende que Dilma esteja à frente. No Rio Grande do Sul, dos oito municípios, apenas um é governado pelo PSDB e em três deles não houve candidato a prefeito fora da base do governo. Seria necessário fazer um cruzamento, agora, com as obras do PAC e com aquele programa de Lula, denominado Territórios da Cidadania. Em São Paulo, a manipulação é flagrante. A amostra tem cinco municípios, totalizando 573 mil eleitores, que são dirigidos por tucanos. Já o número de eleitores em três municípios petistas da amostra é de 1 milhão e 400 mil eleitores, incluindo Guarulhos e São Bernardo do Campo. Existem outros indícios de falcatrua das grossas. Em Santa Catarina, montaram uma amostra de cinco municípios, apenas um tucano, onde a eleição foi acirradíssima. Em três municípios não houve oposição aos partidos da base de Lula em 2008. E o mais escandaloso: trocaram a capital Florianópolis por São José, do PSB, onde a filha do Lula é secretária de Ação Social e está entupindo a cidade de verbas federais.

O Coturno Noturno fez a sua parte. Que os comentaristas e oposicionistas façam a sua.
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Não dá para deixar de comentar a Bahia.

A amostra é imensa e tiram dali a representatividade do Nordeste. Por acaso, são 13 cidades no estado do Jaques Wagner. Em 9 delas não houve candidato de oposição em 2008. Sabem quantos municípios governados pelo DEM na amostra? Nenhum! Isto na terra do ACM! O mais engraçado é que escolheram um município, cujo nome é Boa Nova, onde o nome do prefeito é Toinho da Dilma. Nada mais simbólico para emoldurar esta pesquisa da Vox Populi.
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E o que dizer do Ceará?

Naquele estado, o PSDB fez 30% das prefeituras. Sabe quantas cidades tucanas estão na amostra da Vox Populi? Zero! Das 5 cidades, 2 são do PT e 1 do PCdoB. Melhor do que isso, só patinha de caranguejo.
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Em Minas Gerais, então, a Vox Populi chutou o balde.

São 13 municípios na amostra, sendo que apenas dois são do DEM. Sabem quantos eleitores os municípios demos de Antonio Dias e Antônio Prado de Minas têm? Menos de 10 mil! Sabem quantos municípios não tiveram concorrência do PSDB, DEM e PPS em 2008, na amostra mineira? Cinco! E sabe quantos municípios governados pelo PSDB do governador Aécio Neves estão na amostra? Nenhum! Aliás, um! Juiz de Fora, com 370 mil eleitores, onde o PSDB elegeu o prefeito com 51% contra 48% do PT. Melhor que isso só uma vaca desatolada!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O HAITI É NO MARANHÃO



Do Blog Com Continuação, de Felipe Klamt

Lembramos do Epitácio Cafeteira como aquele que enfrentou o Sarney durante muitos anos, afirmando que a miséria da nossa população era fruto dos desmandos do grupo político comandado pela família.

Quantas não foram às vezes que o conhecido “Cafifa” divertiu os eleitores, a imprensa e os políticos de esquerda com as suas ironias sobre as armações da turma de ocupação.

Bastou o Sarney virar presidente do Brasil para Cafeteira esquecer o seu algoz que tentou de tudo com a intenção de destruir a sua carreira, parece ter afirmado que o Sarney pediu a sua cabeça aos militares durante a ditadura.

Virou o governador do Maranhão. Foi um desastre, nunca fez nada pelo povo sofrido, somente pelos seus. Enfrentou novamente o grupo dominante para o governo estadual e foi “vencido” misteriosamente pela atual ocupante dos Leões.

Ficou miúdo sem uma contestação.

Voltou ao senado pela vontade do seu eterno inimigo-amigo-inimigo e definitivamente aliado para o resto da vida.

O último serviço prestado ao grupo Sarney foi como relator do processo do habilidoso Renan Calheiros, liberou o alagoano sem sentimentos de culpa.

Nesta semana votou contra o aumento do efetivo militar brasileiro no Haiti, parece que vozes do passado o incomodava na hora do discurso:

“Lembra do Maranhão, o Haiti é aqui, não esquece que o Maranhão é o Haiti”.

Cruz credo!!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Eleições 2010 - Marta e Ciro

Por Lauro Jardim

A propósito da sucessão paulista, Marta Suplicy tem dito aos mais próximos que as seguidas declarações de Ciro Gomes negando ser candidato em São Paulo não pode nem deve ser levada ao pé da letra:

- Ele pode até não vir a ser candidato, mas se o Ciro admite agora uma eventual candidatura aqui em São Paulo, perde a possibilidade de negociar outras coisas com Lula e com o PT em relação à própria campanha e ao seu futuro político. Então, faz parte do jogo que negue até o último momento.

Eleições 2010 - PT paulista fervilha


Se Ciro Gomes vai ser mesmo candidato a governador de São Paulo, como quer Lula, no fundo só vai se saber mais para frente. As conversas neste momento são ensaios para a decisão final.

Hoje, no PT paulista, a convicção é que Ciro não irá mesmo desembarcar na campanha paulista. E, por isso, as articulações internas estão fervilhando.

Se Aloizio Mercadante quiser ser o candidato, será. Se não topar, não há consenso. Haverá disputa entre Marta Suplicy e o prefeito de Osasco Emídio de Souza.

domingo, 24 de janeiro de 2010

LULA E DILMA, ACIMA DA LEI - "ABUSO DE PODER POLÍTICO" - CASSADOS: POR MUITO MENOS, FOI ASSIM NO MARANHÃO E PARAÍBA.

Deu em 'O Estado de S. Paulo'

Comitê central

De Dora Kramer:

Se a realização de uma reunião entre o presidente da República e seu ministério em uma das residências oficiais da Presidência, a Granja do Torto, em que dos 14 pontos abordados 12 são de caráter político-eleitoral, não é uso da máquina pública, difícil definir o que seja abuso de poder.

Decisões de governo propriamente ditas foram anunciadas duas: a alteração da previsão de crescimento do PIB de 5% para 5,2% e o anúncio lançamento do PAC 2 para fim de março. Nada que precisasse da moldura de uma reunião ministerial para ser dito.

Mas o cenário imponente foi usado ao molde da necessidade do presidente Luiz Inácio da Silva em exibir todo o seu peso como cabo eleitoral da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Deu o recado: é o governo em ação.

E explicitou tarefas, uma a uma, à vontade como se estivesse no comitê central da campanha à própria sucessão.

No centro da mesa, rodeado de ministros, Lula avisou que quer mesmo uma eleição plebiscitária. Ponto um.

Ponto dois: afirmou que o lema será "quem sou eu contra quem és tu". Por "eu e tu" entenda-se Lula e Fernando Henrique Cardoso. Uma maneira de o presidente não apenas se aproveitar da situação desfavorável a FH nas pesquisas, mas principalmente de conferir ao governador José Serra o status de pupilo, procurando igualá-lo a Dilma.

Ponto três: insultou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, porque ele teve a ousadia de dizer que se seu partido ganhar a eleição vai acabar com essa história de chamar cronograma de obras de governo de PAC.

Ponto quatro: pediu a Dilma que faça uma campanha de alto nível.

Ponto cinco: orientou os ministros para que fiquem longe do tiroteio eleitoral.

Ponto seis: determinou a todos que tenham na ponta da língua dados para rebater os ataques da oposição.

Ponto sete: informou que Dilma fica no governo até 3 de abril e determinou aos demais ministros candidatos que façam o mesmo.

Ponto oito: informou que em breve vai conversar com Ciro Gomes sobre a candidatura dele a presidente.

Ponto nove: lembrou que o governo perdeu a eleição no Chile porque se dividiu.

Ponto 10: ordenou ao ministro da Fazenda e ao presidente do Banco Central que falem sobre dados que afetam a vida das pessoas e evitem a macroeconomia, tema de difícil entendimento para o eleitor médio.

Ponto 11: lançou o vice-presidente José Alencar candidato ao Senado por Minas.

Ponto 12: comunicou que Dilma continua estrela do PAC, mesmo no palanque.

Ponto final: se isso não é uso da máquina pública em prol de interesse particular, Deus nos livre do momento em que a coisa apertar e o abuso começar.


sábado, 23 de janeiro de 2010

Marina Silva apimenta debate e diz que PAC tem visão equivocada

(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier)


RIO DE JANEIRO (Reuters) - A pré-candidata do PV à sucessão presidencial, senadora Marina Silva (AC), entrou no debate sobre o futuro do PAC no próximo governo ao afirmar que o principal programa de infraestrutura da gestão Lula tem um visão equivocada e que as obras não se preocupam devidamente com o impacto social e ambiental.

"O programas tem um visão equivocada. É a visão da aceleração pela aceleração. Precisamos dos investimentos em infraestrutura, mas ele pode ser feito de forma cuidadosa com as questões sociais e ambientais", disse a senadora a jornalistas nessa sexta-feira no Rio onde gravou o programa eleitoral do partido no rádio e na TV que vai ao ar em 4 de fevereiro.

Marina não falou em acabar com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como defendeu o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), o que provocou a ira da base governista.

Ela avalia, no entanto, que falta uma visão estratégica e nacional ao programa de aceleração do crescimento.

"Tem que se pensar a infraestrutura do país de forma mais estratégica. Não se trata apenas de ter investimentos fragmentados. É preciso ter um olhar mais integrado para o programa", declarou.

Para Marina, a troca de farpas entre situação e oposição em torno do PAC demonstra que a campanha eleitoral já começou, embora ela só se inicie oficialmente em julho. Segundo a senadora, foi o próprio governo que decidiu antecipar a campanha em uma tentativa de dar mais visibilidade à candidatura da ministra Dilma Roussef (PT).

"Houve um antecipação e fica difícil para os demais não se colocarem na pré-campanha. Quando alguém não pode exigir que os demais fiquem sentados", disse.

O programa eleitoral do PV vai expor a biografia de Marina Silva com o objetivo de torná-la mais conhecida do eleitorado. Outro tema será a educação.

MARINA NÃO CEDE GABEIRA

Marina disse que não pretende dividir o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) com José Serra (PSDB-SP), provável candidato da oposição à sucessão presidencial, que vem tentando ter um palanque no Estado do Rio.

"Dividir com Serra de jeito nenhum. Sou possessiva", disse Marina ao lado de Gabeira.

Gabeira confirmou que será candidato ao governo do Estado pelo PV e terá um representante do PSDB como seu vice. O deputado evitou deixar claro quem abrigará no palanque.

"Essa negociação (com Serra) está sendo concluída para saber como será meu comportamento. Meu trabalho será trabalhar mais minha candidatura", declarou.

"Se o modelo for o mesmo usado no Acre, por exemplo, o candidato a governador fala do seu candidato a presidente e o vice do seu candidato", sugeriu.

Gabeira vai representar uma coligação formada por PV, PSDB, PPS e DEM.



Governo promove ajuste eleitoreiro no Bolsa Família

Do Blog de Josias de Souza

Na surdina, evitou-se a exclusão de 5,8 milhões de pessoas


Em 23 de dezembro passado, a dois dias do Natal, o governo modificou as regras do programa Bolsa Família.

Feita na surdina, a mudança evitou que fossem excluídas do programa 1,44 milhão de famílias. Algo como 5,8 milhões de pessoas.

Deve-se a revelação à repórter Laura Diniz. Ela levou a notícia às páginas de Veja.

Abaixo, um resumo da encrenca em dez tópicos:

1. Pelas regras que vigiam até dezembro, perderiam o direito ao benefício as famílias cujos cadastros estivessem desatualizados há mais de dois anos.

No final de 2009, encontravam-se nessa situação cerca de 1 milhão de famílias. Tiveram os pagamentos bloqueados em novembro.

2. Rezavam também as normas antigas que deveriam ser excluídas do programa as famílias cuja renda per capita houvesse ultrapassado o limite de R$ 140.

Algo como 440 mil famílias haviam cruzado essa fronteira monetária no final de 2009.

3. Por meio de um ato administrativo, o Ministério do Desenvolvimento Social, que cuida do Bolsa Família, criou um inusitado “prazo de carência”.

Um período durante o qual as burlas às regras serão toleradas. Com isso, quem teve o benefício cancelado voltará a recebê-lo neste ano eleitoral.

4. Um detalhe pouco sutil injetou na mudança um quê de pragmatismo político. Fixou-se como fim do "prazo de carência" o dia 31 de outubro de 2010.

Não é uma data qualquer. Um domingo. Dia em que os brasileiros irão às urnas para escolher, em segundo turno, o próximo presidente da República.

5. Ou seja, para evitar o azedume de milhões de eleitores, o governo decidiu fechar os olhos para a burla até que as urnas da sucessão sejam abertas.

6. A regra da exclusão de famílias com os cadastros desatualizados visava impedir as fraudes.
A norma do limite de renda servia para evitar que famílias em condição de caminhar com as próprias pernas permanecessem penduradas no programa, impedindo o acesso de outras.

7. Principal programa do governo, o Bolsa Família teve seus méritos atestados nos indicadores sociais e na melhoria das disparidades de renda.

O programa convive, porém, com a pecha do assistencialismo eleitoral. Uma fama que o jeitinho do “prazo de carência” vem agora tonificar.

8. Ouça-se, a propósito, o que disse o cientista político Bolívar Lamounier:
"Os antigos coronéis do interior do Brasil pelo menos aliciavam votos com o próprio dinheiro. O governo atual faz isso com dinheiro público".

9. Criado em outubro de 2003, nas pegadas do fracasso do Fome Zero, o Bolsa Família atendia a 3,6 milhões de famílias. Custava, então, R$ 3,3 bilhões anuais.
Em 2009, o número de beneficiários já havia quadruplicado: 12,4 milhões de famílias. O custo anual alçara a casa dos R$ 12,4 bilhões.

10. O contingente é grande. O dinheiro aplicado, considerável. A anomalia eleitoreira da convivência com a irregularidade e a fraude, intolerável.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Relatório da PF indica propina para grupo de Sarney



Menciona também repasses supostamente feitos a pessoas ligadas ao PT. O documento consta do inquérito da Operação Castelo de Areia.

Investiga a construtora Camargo Corrêa. O processo foi suspenso dias atrás pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Os repasses suspeitos são mencionados em arquivos de computador apreendidos pela PF em poder de Pietro Bianchi, diretor da Camargo Corrêa.

Deve-se a revelação aos repórteres Fernando Barros de Mello e Lilian Christofoletti. Em notícia levada às páginas da Folha, a dupla informa:

1. Somados, os recebimentos atribuídos a membros do grupo de Sarney e ao petismo alçam à casa dos R$ 2,9 milhões.

2. Referem-se à obra da eclusa de Tucuruí, no Pará. Empreendimento a cargo do Ministério das Minas e Energia, controlado por Sarney.

3. O arquivo digital manuseado pela PF faz menção a repasses aos partidos de 3% de uma parcela recebida pela Camargo Corrêa na obra da eclusa.

4. Há no documento uma data: 15 de maio de 2008. Nesse dia, um repasse: R$ 1,5 milhão. E a indicação de um pagamento por fazer: R$ 1,4 milhão.

5. Ao lado da cifra, menções aos destinatários dos pagamentos: “Astro/Sarney”.

6. Em seu relatório, a PF escreve que Sarney é, “provavelmente”, Fernando Sarney, filho do presidente do Senado.

7. Nesse mesmo trecho o arquivo de computador apreendido pela PF faz referência a outra liberação destinada ao PMDB no mesmo dia 15 de mais de 2008: R$ 500 mil.

8. Noutro documento, faz-se menção ao pagamento de R$ 150 mil. Dessa vez, relacionada à obra da usina de Jirau. De novo, a inscrição “Astro”, de Astrogildo.

9. Há também um arquivo digital que registra pagamento de R$ 300 mil. Coisa fracionada. Três parcelas de R$ 100 mil.

10. Neste caso, as cifras são associadas à inscrição “Ex. Min. Sil.”. Para a PF, vem a ser o ex-ministro Silas Rondeau.

11. Indicado por Sarney para a pasta das Minas e Energia, Rondeau deixou o cargo em 2007, sob investigação na Operação Navalha.

12. Não é só: há também um arquivo que cita pagamento, “por dentro”, de R$ 500 mil. O beneficiário? “Lobinho”. Para a PF, trata-se de Edson Lobão Filho.

13. É filho e suplente do senador Edison Lobão, que se licenciou do Senado para assumir a vaga de Rondeau no Ministério de Minas e Energia.

14. O material analisado pela PF relaciona dois pagamentos ao PT. Um destinado associado ao nome “Paulo”, que a polícia alega não ter identificado.

15. O outro traz anotação mais completa: “Paulo Ferreira”. A PF suspeita tratar-se de Paulo Ferreira, sucessor de Delúbio Soares na tesouraria do PT.

16. Procurado, Sarney disse, por escrito: “Essa é uma história infame, sem pé nem cabeça...”

“...Considero um insulto enviado aos jornais com a intenção de atingir minha honra e criar escândalo".

17. Contacto por e-mail, Fernando Sarney não deu retorno aos repórteres.

18. O advogado da Camargo Corrêa, Celso Vilardi, declarou: "Não vou me manifestar sobre provas que estão sub judice...”

“...Se o tribunal [STJ] confirmar a decisão liminar que suspendeu toda a operação [Castelo de Areia] e seus desdobramentos, toda essa documentação será considerada ilegal, ilícita, sem nenhum valor".

19. Silas Rondeau disse: “Fico realmente muito triste com isso. Não tenho nenhuma relação com essa empresa, nunca recebi qualquer valor...”

“...É mais um absurdo dentre tantos que foram ditos, não tem qualquer possibilidade de isso ser verdade".

20. E quanto a Paulo Ferreira, o tesoureiro do PT? "Nós temos com as empresas relação institucional...”

“...Nós tivemos doações da Camargo em 2008, por conta da eleição. As doações estão registradas. O PT recebeu formalmente as doações."

21. Os repórteres tentaram ouvir, sem sucesso, o senador Lobão Filho.

22. Astrogildo Quintal delegou ao advogado Roberto Dias a incumbência de falar em seu nome. Ele não foi localizado, porém, nem no escritório nem no celular.





quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Comparação incomparável

Deu em 'O Estado de S. Paulo'

De Dora Kramer:

O presidente Luiz Inácio da Silva faz o estilo caudilho, quer mandar em tudo e em todos. Ao PT impôs uma candidata que o partido carrega contrariado, mas conformado, refém de duas crises: de identidade e de baixa estima.

Abriu mão de decidir sobre o próprio destino porque não sabe mais quem é nem o que quer a não ser se manter no poder tendo como referência única a popularidade de Lula. A conquista desse capital por meio de um trabalho de construção do mito fez com que o partido transferisse ao chefe todo poder de escolher seus caminhos.

Como se ele fosse o único dono de discernimento, habilidade política e capacidade estratégica entre milhares de petistas.

Em grau menor, os outros aliados ao presidente agem da mesma forma. Não só deixam que Lula interfira em suas decisões, como pedem sua interferência para resolver pendências.

Já houve ocasião em que a assessoria de comunicação do Palácio do Planalto quis dar a impressão de que Lula poderia até influir nas decisões dos oposicionistas. Foi quando divulgou que o presidente daria "um jeito" de convencer o governador de Minas, Aécio Neves, a insistir na candidatura presidencial para "forçar" o governador de São Paulo, José Serra, a optar pela reeleição.

Lula muda o calendário eleitoral, transgride a legislação sem pejo nem contestação, faz candidatos desistirem de concorrer a governos de Estados, determina quem vai disputar o Senado, transforma um político de dimensão nacional como Ciro Gomes em estafeta de suas conveniências, quer mandar na escolha do candidato a vice do PMDB e, no ápice da convicção de ser absoluto, vive a convicção de que pode comandar a vontade do eleitor que o seguiria independentemente da qualidade da candidatura por ele sustentada.

Em resumo, transita como um coronel em seu hábitat, o curral eleitoral.

Feito o longo enunciado da premissa, vamos ao ponto: só esse modo de agir de Lula já seria suficiente para marcar a especificidade do processo eleitoral brasileiro e a impossibilidade de compará-lo a qualquer outro na tentativa de estabelecer paralelos com resultados de eleições já concluídas.

Especificamente a do Chile, onde Sebastián Piñera derrotou o ex-presidente Eduardo Frei, candidato da presidente Michele Bachelet, dona de 81% de aprovação popular.

Como raciocínio hipotético à falta de uma discussão mais consistente, até vale o cotejo. Mas a conclusão de que é "prova" de que voto não se transfere e, portanto, Dilma teria necessariamente o destino de Frei é falha. E rasa.

Não leva em conta as diferenças abissais entre os dois países, seja no histórico, na formação educacional de suas populações, na definição ideológica dos partidos, na identificação entre eles na formação das coalizões, na natureza da popularidade de um e de outro presidente (aqui fruto de um bem montado esquema de culto à personalidade) e, principalmente, no papel dos chefes de ambas as nações no processo eleitoral.

Ao contrário de Lula, Bachelet não carregou um "poste". Uma por questão de estilo e circunstância, outra porque Eduardo Frei tem história no Chile.

Lá, a transferência de votos não foi questão decisiva como será aqui nem a presidente da República galvanizou as atenções tomando ela o lugar do candidato. Tampouco são semelhantes as razões do eleitorado para decidir.

Essas observações não pretendem montar uma equação a respeito de vantagens ou desvantagem comparativas, mas apenas pontuar uma obviedade: impossível comparar situações diferentes e pretender chegar a uma conclusão razoavelmente condizente com a realidade.

O que vai definir o desempenho de Dilma é o grau de empatia que ela conseguir, ou não, estabelecer com o eleitor.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Serra vai bem, obrigado!

Comentário de Ricardo Noblat

Nem tão de leve que sugira desinteresse, nem tão forte que desate uma reação contrária.

É assim que se comporta o governador José Serra, de São Paulo, em relação ao colega Aécio Neves, de Minas Gerais.

Sonha com ele de vice em sua chapa de candidato à vaga de Lula. Mas se o pressionar muito poderá perdê-lo. E se não o pressionar, também.

Em meados do ano passado, Serra visitou Aécio no Palácio das Mangabeiras, em Belo Horizonte. Aécio estava embalado para sair candidato pelo PSDB a presidente da República.

A certa altura do encontro, Aécio advertiu Serra: “Você poderá ser o candidato do partido. Só não poderá me derrotar. Se o fizer, não terá os votos de Minas por mais que eu me esforce para ajudá-lo”.

Foi por isso que Serra fez cara de paisagem e engoliu todos os sapos servidos por Aécio. Alguns foram sapos gordos.

Um deles: as recepções festivas oferecidas por Aécio a Lula em Minas.

Outro: a pregação de Aécio contra o predomínio dos paulistas na política nacional.

Mais um: a insinuação de que somente ele, Aécio, atrairia apoios de partidos alinhados com o governo Lula.

Acabou indo pelo ralo a proposta de Aécio para que o PSDB escolhesse seu candidato a presidente por meio de prévias. De público, Serra concordou com a proposta. Na troca de telefonemas com líderes do partido, rejeitou-a.

Também foi pelo ralo o esforço de Aécio para crescer nas pesquisas de intenção de voto. Serra nada teve a ver com isso. Finalmente, Aécio desistiu de ser candidato.

“Vou me dedicar às eleições em Minas”, anunciou no final de dezembro último. E desde então tem descartado a hipótese de ser vice de Serra. Repete que será candidato ao Senado.

Serra dá tempo ao tempo. Lembra do que dizia Ulysses Guimarães, condestável do PMDB e da Nova República que sucedeu ao regime militar: “O segredo da política reside em três coisas: paciência, paciência e paciência”.

Há dois calendários em confronto para a próxima eleição presidencial – o de Lula e o de Serra. E ambos estão certos.

A única maneira que tinha Lula para eleger Dilma Rousseff era antecipar em mais de um ano o início da campanha. Foi o que fez. Dilma jamais disputou uma eleição. Era preciso torná-la conhecida. Sob o disfarce de lançar ou de inaugurar obras, Lula percorre o país com Dilma a tiracolo.

Serra se fingiu de morto para não ter que trombar, primeiro, com Aécio, e depois com Lula e Dilma. Só teria a perder. Se puder não trombará com Lula, o presidente mais popular da História. E evitará trombar com Dilma até o último minuto.

Lula afirmou na semana passada que é capoeirista e que está pronto para a briga. Se depender de Serrinha “paz e amor”, não haverá briga – só confronto de idéias.

Na moita, Serra se esforça por desmanchar a poderosa coligação de partidos montada por Lula para apoiar a candidatura de Dilma. E está se saindo bem.

Foi dado como certo que ele não teria um palanque forte no Rio, o terceiro maior colégio eleitoral do país. Serra negociou com Marina Silva, candidata do PV a presidente, e resgatou a candidatura de Fernando Gabeira ao governo do Rio.

Quer juntar na Bahia o PFL do ex-governador Paulo Souto com o PMDB do ministro Geddel Vieira Lima, da Integração Nacional. De preferência com Geddel para o governo e Souto para o Senado.

O PSB de São Paulo está com ele e o de Minas com Aécio. É por isso que Serra assimila sem retribuir os golpes que Ciro Gomes lhe aplica. O PSB quer Ciro como candidato ao lugar de Lula.

Caso Lula vete Ciro, no momento o PSB prefere não se juntar ao PT para eleger Dilma, facilitando assim suas mais heterogêneas alianças nos Estados. Foi como procedeu em 2006, negando a Lula seu tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.

Se o PSB foi capaz de pensar em si antes de pensar em Lula, quanto mais com Dilma?

De volta a Aécio: chegará a hora certa de Serra abordá-lo sobre a vaga de vice.

Fundação Sarney fraudou projeto e desviou verba

Deu em O Estado de S. Paulo

Auditoria aponta irregularidades com R$ 1,3 milhão recebido da estatal para ação cultural que não saiu do papel

De Leandro Colon:
 
Auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) nas contas da Fundação José Sarney apontou para uma cadeia de fraudes na execução de um projeto de R$ 1,3 milhão patrocinado pela Petrobrás.

A investigação do órgão do governo federal acusa a entidade - criada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para preservar a sua memória - de uso de notas frias e calçadas (divergência de valores), empresas fantasmas e de fachada, contratações irregulares, ausência de comprovação de serviços, entre outras irregularidades, para um projeto cultural que nunca saiu do papel.

Os recursos seriam destinados à preservação do acervo e à modernização dos espaços físicos da entidade, em São Luís. Mas a CGU apurou, por exemplo, que R$ 129 mil da Petrobrás foram desviados para custear despesas da fundação, como energia, impostos e refeições.

"Gastos que não estavam previstos no plano de trabalho", informa o relatório da auditoria. A CGU é dirigida pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aliado de Sarney.

Esse é o primeiro resultado da investigação de um órgão público no patrocínio da Petrobrás e confirma reportagem publicada pelo Estado em 9 de julho do ano passado, sobre o desvio dos recursos.
Naquele mesmo mês, a CGU abriu a auditoria nas contas da entidade. O relatório foi enviado na semana passada ao Ministério da Cultura, intermediário do patrocínio.

Os auditores estiveram na capital maranhense e constataram que a Fundação José Sarney apresentou, em sua prestação de contas, notas fiscais de empresas com endereços falsos.

É o caso do Centro de Excelência Humana Shalom, que recebeu mais de R$ 70 mil para, em tese, prestar serviços de consultoria.

O Estado já havia mostrado em julho, e a CGU confirmou depois, em seu relatório, que a empresa não existe. "Não foi localizada nem no endereço indicado em suas notas fiscais nem no endereço declarado à Receita Federal", relata a auditoria, que procurou os donos da empresa. "O sócio se mostrou evasivo quando solicitado a especificar os trabalhos por ele desenvolvidos", afirma a CGU.




Aécio não receberá Lula e Dilma em Minas

Deu em 'O Globo'

Petistas farão maratona de inaugurações no estado, e tucano prefere reforçar apoio a Serra, para evitar especulações

De Fábio Fabrini, Isabel Braga e Cristiane Jungblut:

Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência, desembarcam amanhã em Minas para mais uma rodada de inaugurações. Desta vez, não serão recepcionados pelo governador Aécio Neves (PSDB).

Diferentemente de visitas anteriores, o tucano não pretende subir no palanque governista — decisão que, segundo fonte ligada a ele, foi comunicada ao presidente por telefone, na quinta-feira. Trata-se de um gesto para não melindrar o governador paulista, José Serra (PSDB), que já assume a candidatura ao Planalto.

— Participar dessa agenda, agora, provocaria especulações — disse um dirigente tucano, referindo-se ao acirramento da disputa pré-eleitoral e ao clima no partido depois de Aécio renunciar ao projeto presidencial.

Desde que anunciou sua desistência, o governador mineiro tem sido alvo de questionamentos sobre seu real interesse em se engajar na candidatura de Serra, que precisa de bom desempenho junto ao eleitorado para se eleger. A presença nos eventos poderia alimentar versões e desagradar o tucanato, que classifica as viagens presidenciais de campanha pró-Dilma. Fonte próxima ao Palácio da Liberdade diz que Aécio optou por não se envolver.

Amanhã de manhã, Lula e Dilma inauguram uma barragem para irrigação no Rio Setúbal, Jenipapo de Minas, e uma escola técnica em Araçuaí, ambas no Norte mineiro. Em seguida, entregam a primeira etapa de uma termelétrica e uma unidade de pronto atendimento (UPA) em Juiz de Fora.

Hoje, Aécio almoça no Rio com o presidente do DEM, Rodrigo Maia, e discute alianças no país e nos estados. Publicamente, o governador cultiva uma relação cordial com o presidente e, em visitas anteriores a Minas, esteve no palanque do governo.

Em outubro, desmarcou encontro e cumpriu em Pirapora agenda paralela à do presidente, que vistoriava obras na vizinha Buritizeiro. Mas despediu-se dele no aeroporto, posando para fotos abraçado a Dilma e ao deputado Ciro Gomes, pré-candidato do PSB. Dias depois, esteve no lançamento do PAC das Cidades Históricas, em Ouro Preto. Em discurso, elogiou as parcerias.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Governo fez "palhaçada com assunto sério", diz Guerra sobre plano de Direitos Humanos

O PSDB vai usar a polêmica em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos para atacar o governo. “Vamos bater neles. Isso é palhaçada com um assunto sério. No afã de fazer propaganda o governo deu um tiro no pé”, disse o presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).


A declaração foi feita na segunda-feira, depois de um almoço com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) no apartamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em Higienópolis, região central de São Paulo.

Embora discorde de alguns pontos do programa como a restrição do uso de símbolos religiosos em prédios públicos, Guerra disse que as principais discordâncias são quanto à forma como o plano foi elaborado e divulgado. “Foi feito em forma de decreto e tem muita coisa ao mesmo tempo. Sem contar que não amadureceu dentro do próprio governo”, disse Guerra.

Segundo ele, dificilmente o governo conseguirá implementar efetivamente o plano em um ano eleitoral, no final do governo. “Em abril, a metade dos ministros vai sair para concorrer às eleições. Por que não fizeram antes?”, questionou.

"Sapato errado"

Fernando Henrique criticou a forma como o governo encaminhou o PNDH. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou um problema ao anunciar o plano sem que o documento tivesse consenso no próprio governo.

“Isso é problema do Lula. Ele calçou o sapato errado”, disse o ex-presidente ao ser questionado sobre o que é possível fazer agora para esfriar os ânimos no governo.

Para Fernando Henrique, em vez de resolver pendências, o PNDH criou novos pontos de atrito com as reações contrárias dos ministros da Agricultura, Reinhold Stephanes, e Defesa, Nelson Jobim, além da ameaça de pedido de demissão do secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.
“Começou mal dentro do próprio governo. Não se faz isso em política. Não se faz essa confusão. Atrapalha”, disse Fernando Henrique.

O ex-presidente admitiu que alguns pontos do PNDH já constavam de documentos elaborados em 1996 e 2001, durante o governo tucano. Fernando Henrique evitou das uma posição sobre a criação da comissão da verdade para esclarecer crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985), o ponto mais polêmico da proposta. “Depende. Na África do Sul deu certo”, respondeu.

Entenda a polêmica

A polêmica sobre o Programa de Direitos Humanos começou no final do ano passado, às vésperas do Natal, quando o ministro da Defesa, Nelson Jobim, levou uma carta ao presidente Lula na qual os comandantes do Exército, general Enzon Martins Peri, e da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, e ele mesmo colocavam seus cargos à disposição caso Lula não revogue o trecho que cria a Comissão da Verdade que tem como objetivo apurar torturas e desaparecimentos no período da ditadura militar.

Já, o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos, ameaça deixar o cargo caso o texto seja revisto. Os militares querem que a comissão investigue também militantes da esquerda armada durante a ditadura. Para Vannuchi, torturadores e torturados não podem ser colocados no mesmo nível.

Setores da Igreja Católica, parlamentares ruralistas e o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, também já criticaram o programa. Em uma tentativa de contornar a divisão no próprio governo, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos se defendeu das críticas. O órgão afirma ter apoio maciço à proposta na Esplanada dos Ministérios, com assinatura de 31 das 37 pastas.

Lula e os estragos do decreto


O presidente Lula voltou a Brasília, depois das férias, com o objetivo imediato de acabar com a briga entre ministros, pôr ordem na casa e cuidar dos estragos causados pelo infeliz decreto sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos, assinado por ele mesmo em 21 de dezembro.

Pelo menos um erro o presidente reconheceu: não se deveria ter incluído no texto a proposta de revogação da Lei da Anistia, de 1979. Melhor deixar o assunto para o Judiciário, porque a lei já foi contestada pela Ordem dos Advogados do Brasil e o Supremo Tribunal Federal deverá julgar a ação neste ano. Mas o erro foi cometido em várias etapas.

A primeira contribuição foi do secretário Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, responsável pelo texto original do decreto. A segunda foi da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Era sua obrigação desarmar a bomba e prevenir o presidente. A terceira, e conclusiva, foi do próprio Lula, ao assinar o papel.

Atribuem-lhe a declaração de que assinou sem ler. Pode ser verdade. Mas pode ser também que o tenha lido sem pensar nas consequências. A segunda hipótese parece improvável, porque o decreto tem 92 páginas e o presidente, como se sabe, é avesso à leitura. Mas isso não o isentaria de responsabilidade.

O fato é que ele escorregou mais de uma vez. Um de seus enganos foi confiar na atenção e na qualidade do julgamento da ministra-chefe da Casa Civil, sua candidata à Presidência. Se eleita, ela talvez tenha mais sorte que Lula na escolha da figura mais importante do gabinete ? alguém capaz de ler e de avaliar os documentos entregues para o chefe assinar.

Mas o presidente ainda pode evitar maiores danos. Se eliminar o revanchismo embutido no decreto, poderá acomodar a situação com os comandantes militares e livrar o ministro da Defesa, Nelson Jobim, de uma situação muito desconfortável. Com isso, talvez tenha de aceitar a demissão de seu secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, mas isso será um bônus, não um custo.

Sobrariam, no entanto, outros problemas. O revanchismo e a tentativa de revogação da Lei da Anistia são apenas uma das várias fontes de conflito reunidas no decreto. Na sexta-feira, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, criticou o texto assinado por Lula. O documento, segundo ele, é preconceituoso em relação à agricultura de mercado, principal suporte do superávit comercial e da estabilidade de preços.

Na sua opinião, as mudanças legais propostas pelo decreto deverão aumentar "a insegurança jurídica no campo". Quanto a isso, não podem pairar dúvidas. O decreto defende, entre outras aberrações, um exercício de mediação entre invasores e vítimas de invasão de propriedades, antes da decretação, pelo juiz, da reintegração de posse. Invasão ainda é crime e invasores não podem ter o mesmo status legal de suas vítimas, mas o autor do texto parece desconhecer ou desprezar esse e outros detalhes. O mesmo decreto propõe subordinar ao assembleísmo de organizações "populares" as decisões de aumento de plantio de várias culturas de grande importância comercial para o País.

O secretário nacional de Direitos Humanos acusou seus críticos de desejarem transformar o plano em "monstrengo político único no planeta". Pura injustiça. O decreto já nasceu um monstrengo e seu autor é ele mesmo. Mas não é "único no planeta". Pertence a uma velha e grande família. Entre seus antepassados incluem-se as leis criadas pelos governos mais totalitários e mais brutais do século 20.

Entre os parentes contemporâneos é fácil apontar, por exemplo, as aberrações do regime instaurado pelo venezuelano Hugo Chávez e outras produzidas ou meramente ensaiadas por vários chefes populistas latino-americanos. As ameaças à liberdade de expressão e de informação, em nome de direitos humanos, são típicas dessa família de concepções políticas, assim como a intenção de converter o ensino da História em ferramenta de controle ideológico. Portanto, monstrengo, sim, mas não único em sua espécie.

Para cuidar dos danos causados pelo decreto, o presidente Lula terá de entender a extensão do problema. Não basta cuidar da polêmica entre os chefes militares e o secretário Paulo Vannuchi, nem atenuar aqui e ali as ameaças ao agronegócio. O decreto é totalmente ruim, porque é de natureza ditatorial. É esse o problema real, e o presidente sabe disso mesmo que não o tenha lido.