"Desfrute da viagem da vida. Você só tem uma oportunidade, tire dela o maior proveito."

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Aleluia! Lula reconhece o que sempre desprezou

Comentário de Ricardo Noblat


Passou os últimos oito anos criticando seus antecessores por não terem tido tanto êxito quanto ele. Hoje, finalmente, em discurso de improviso feito durante visita ao canteiro de obras da usina hidrelétrica de Estreito, na divisa do Maranhão com o Tocantins, Lula concedeu:

- Eu tenho consciência que outros presidentes da República não tiveram as mesmas condições que eu. O presidente Sarney pegou o Brasil em época de crise. O Fernando Henrique Cardoso, mesmo se quisesse fazer, não poderia, pois o Brasil estava atolado numa dívida com o FMI. Quando você deve, tem até medo de abrir a porta e o cobrador te pegar.

Pela primeira vez, Lula admitiu que foi beneficiado por uma conjuntura econômica internacional amplamente favorável.

Isso não lhe tira os méritos pelo que fez de bom. E restabelece uma verdade que ele sempre procurou negar ou enfraquecer.


Prazo de validade


Lula prossegue trabalhando com afinco - não, leitor, não é para concluir nenhuma obra de vulto ou reforma de peso - na montagem do governo Dilma. Agora ele emplacou mais um: seu ministro da Educação, Fernando Haddad (segundo a "Folha", mais de um terço dos escolhidos ou cotados são ou já estiveram na administração atual). Até seus companheiros do PT avaliam que o futuro ministério de Dilma tem tanto de Lula que já assume com "prazo de validade". Como Lula não faz outra coisa, não custa perguntar: e aí presidente, seu governo já acabou?


Dilma paga a fatura já na largada

FOLHA DE S. PAULO - Por Kennedy Alencar

Ao acolher tantas sugestões do presidente Lula para formar o novo governo, Dilma Rousseff paga já na largada a principal fatura política da campanha eleitoral.

Ela ganhou por obra dele. Tem consciência disso. E é grata a Lula.

A presidente eleita enquadrou auxiliares que andaram lhe dizendo que Lula talvez estivesse fazendo pedidos em excesso. Disse que é uma relação a prova de intrigas.

"É como a relação da mãe que colocou o filho no colo, viu ele crescer e sair de casa, mas ainda faz tudo para protegê-lo", definiu, de acordo com o relato de um auxiliar.

Eleita sob a bandeira da continuidade, surpresa seria ela não dar ouvidos a Lula. Com o tempo, ela terá oportunidade para montar uma equipe mais com a sua cara.

A experiência indica que o ministério da posse sofre baixas numa velocidade de Primeira Guerra Mundial.

Na primeira reforma ministerial de Lula, em janeiro de 2004, seis caíram e três mudaram de postos. Duas pastas acabaram fundidas. Um ministério foi criado.

Dos atuais 37 ministros, apenas 5 estão com Lula desde 1º de janeiro de 2003: Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Dulci (Secretaria-Geral), Jorge Armando Félix (Gabinete Institucional), Henrique Meirelles (Banco Central) e Guido Mantega (Fazenda). Mantega trocou de posto duas vezes.

Interessa a Dilma usar o escudo político de Lula neste momento. Ela se beneficia da popularidade e do capital político do presidente para tomar medidas duras e negociar com partidos no Congresso. Também poderá dividir a conta de percalços futuros de ministros "lulistas".

Em relação a uma eventual dificuldade de autoridade sobre quem foi seu colega, um integrante da cúpula da transição afirmou, sob reserva: "A Dilma sabe deixar bem claro quem é que manda".


Lula se irrita com pergunta sobre Sarney e manda repórter 'se tratar'

Para o presidente, a partir do momento em que a pessoa 'toma posse, ela passa a ser uma instituição e tem que ser respeitada'

O Estadão - Por Leonencio Nossa, enviado especial

ESTREITO (MA) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou profundamente irritado nesta terça-feira, 30, em Estreito (MA) com uma pergunta da imprensa sobre sua relação com a oligarquia Sarney no Maranhão. "Se você tiver que fazer algum protesto você vai para o Amapá, porque foi lá que o povo elegeu Sarney. E vai para São Paulo, porque o povo elegeu Tiririca. Na medida que a pessoa é eleita e toma posse, ela passa a ser uma instituição e tem que ser respeitada", afirmou, dirigindo-se ao repórter.

A pergunta a Lula era se a visita dele ao Maranhão seria em agradecimento ao apoio do grupo Sarney nos oito anos de seu governo. "Uma pergunta preconceituosa como esta é grave, para quem está oito anos cobrindo Brasília. Demonstra que você não evoluiu nada. É uma doença. O Sarney colaborou muito para a institucionalidade. Eu não sei por que o preconceito. Você tem de se tratar. Quem sabe fazer psicanálise", disse.

Nesse momento, a governadora Roseana Sarney interferiu. "É preconceito contra a mulher. Eu fui eleita governadora do Maranhão para tomar conta do povo." Lula emendou: "Sarney não é o meu presidente. Ele é o seu presidente do Senado ele é o presidente do Senado deste País. Eu lamento que não tenha tido evolução (da imprensa)."

Humildade. Mais cedo, o presidente havia feito um discurso atípico, no qual reconheceu que antecessores não tiveram as mesmas condições que ele ao assumir o comando do País. "Eu tenho consciência que outros presidentes da República não tiveram as mesmas condições que eu", afirmou. "O presidente Sarney pegou o Brasil em época de crise. O Fernando Henrique Cardoso, mesmo se quisesse fazer, não poderia, pois o Brasil estava atolado numa dívida com o FMI. Quando você deve, tem até medo de abrir a porta e o cobrador te pegar", afirmou Lula.

As declarações foram feitas em um discurso de improviso durante visita ao canteiro de obras da usina hidrelétrica de Estreito, na divisa do Maranhão com Tocantins. Ainda em tom de humildade, o presidente observou que a inauguração da obra ficará mesmo para o governo de Dilma Rousseff. "É a Dilma que virá inaugurar, mas eu tinha que vir para fechar a comporta, pelo menos", declarou o presidente.

Lula disse que precisou desmarcar três visitas à obra por causa de problemas nas áreas ambiental e social. Comunidades ribeirinhas denunciam que estão sendo prejudicadas pela construção da usina. O presidente afirmou que recentemente foi firmado um acordo entre o consórcio Estreito Energia, construtor do projeto, com o movimento de atingidos pelas barragens. Pelo acordo, a empresa se responsabilizará por garantir a realocação das famílias e criar condições para que os pescadores continuem suas atividades. "Eu não queria violência com qualquer pessoa", declarou Lula.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Muricy na decisão: vitória do caráter


No futebol, tem gente que é campeão por sorte e outros que deixam de ser por azar. Não é o caso dele. Pelo sexto ano consecutivo, mostrando que não depende de sorte nem de azar, o técnico Muricy Ramalho chega à rodada decisiva do Brasileirão em condições de levar o time treinado por ele ao título.

Até agora, ele conquistou o tri com o São Paulo (2006-7-8), e perdeu com o Internacional (naquele campeonato polêmico de 2005, vencido pelo Corinthians, com jogos anulados por causa do juiz ladrão) e o Palmeiras, no ano passado.

No caso de Muricy, qualquer que seja o resultado de domingo, além do reconhecido talento e da capacidade de trabalho do treinador, esta será a vitória do sujeito de caráter sobre a malandragem que impera no nosso futebol.

No ano em que São Paulo e Palmeiras entregaram jogos para se vingar do Corinthians, que fez a mesma coisa no ano passado, contra o Flamengo, Muricy teve a coragem de recusar o convite da CBF para assumir o comando da seleção brasileira e cumprir até o final seu contrato com o Fluminense _ algo inédito na cultura do leve vantagem em tudo. Por ironia do destino, o beneficiário do vexame de São Paulo e Palmeiras foi o Fluminense e, o grande prejudicado, o Corinthians.

Se vencer e levantar o caneco de 2010, o que é o mais provável, pois o seu Fluminense vai pegar o já rebaixado Guarani jogando em casa, Muricy será tetracampeão brasileiro e terá todos os motivos do mundo para dar uma banana aos seus críticos, na imprensa e nos clubes, a começar pelos diretores do São Paulo que nunca se conformaram por não poder mandar no time enquanto ele era o treinador.

Feliz da vida nos vestiários depois do jogo de domingo, cansado de ver seu time perder um caminhão de gols até chegar à vitória, Muricy foi humilde ao falar do momento que está vivendo:

“Não pensei que estaríamos nesta situação. Temos que ser realistas. Há três anos esta equipe luta para não cair. Não sou exemplo para ninguém, a não ser para meus filhos, mas ninguém segura ninguém no futebol”.

Num campeonato brasileiro que não mostrou nenhum grande time e nenhum grande jogador, o grande destaque ficou fora do campo.


domingo, 28 de novembro de 2010

'Falhei com Kennedy'

Quase 50 anos depois do assassinato do presidente, um de seus guarda-costas não consegue se livrar do sentimento de culpa

Estadão.com.br - CHRISTIAN CARVALHO CRUZ

Hill correu a 24 km/h para alcançar a limusine presidencial em movimento. Quando chegou, o tiro fatal já tinha acertado o alvo.

Onde você estava quando mataram o presidente John F. Kennedy, dos Estados Unidos? A pergunta vale, obviamente, para quem já tinha idade para estar em algum lugar em 22 de novembro de 1963. Mas isso não muda muita coisa no que temos para contar. É comum lembrarmos os grandes acontecimentos da História associando-os a nossa própria existência. Não há presunção nisso. Simplesmente gostamos de pensar que “sim, de um jeito ou de outro eu fiz parte”. E nosso cérebro parece gravar melhor as reminiscências ligadas a uma forte descarga emocional. Pois então, onde você estava quando Paolo Rossi despachou o Brasil da Copa de 82? Quando a Williams de Ayrton Senna desgarrou da Tamburello? Onde estava quando as Torres Gêmeas ruíram? Onde você estava quando mataram John F. Kennedy?

Clinton Hill estava onde gostaria de nunca ter estado: de pé, no estribo esquerdo do carro que vinha logo atrás da limusine presidencial pelas ruas de Dallas naquele terrível fim de manhã. Hill, um ex-militar do Exército de 31 anos, era um dos agentes do serviço secreto responsáveis pela segurança de JFK – no caso específico dele, da segurança da primeira-dama Jacqueline. E ao contrário da maioria de nós ele detesta se lembrar de onde estava quando o grande momento histórico de sua vida aconteceu bem diante de seus olhos. Ainda hoje, quase meio século mais tarde, Hill sofre de um agudo sentimento de culpa. “Não fui capaz de fazer meu trabalho, que era proteger o presidente e a sra. Kennedy”, ele conta, por e-mail, de sua casa na Virgínia. “Eu era o único agente em condição de fazer algo. E falhei. Não fui rápido o suficiente.”

Hill é o homem de preto que, nas fotos do dia e também no famoso filme caseiro do imigrante ucraniano Abraham Zapruder, aparece saltando sobre a rabeira da limusine em movimento após os disparos contra a comitiva. Foram poucos segundos, porém intermináveis para Hill, que fala deles como se durassem até hoje:

“Eu ouvi um estampido atrás de mim, à direita. Virei para aquela direção e quando meu olhar cruzou o veículo presidencial eu vi o presidente segurando a garganta e seu corpo caindo levemente para a esquerda. Percebi que algo estava errado. Saltei do estribo do carro da escolta e corri. Eu queria alcançar a limusine para me colocar entre o atirador e o presidente e a sra. Kennedy. Enquanto eu corria, disseram que houve um segundo tiro, mas eu não o ouvi. Quando finalmente os alcancei, um terceiro tiro foi disparado. Ele acertou a cabeça do presidente, acima da orelha direita. Sangue, fragmentos de osso e de massa encefálica se espalharam sobre a traseira do carro e sobre mim.

Tentei subir na traseira da limusine. O motorista acelerou, eu escorreguei e tive que pular para chegar lá. A sra. Kennedy estava saindo para o porta-malas para tentar apanhar os pedaços da cabeça do presidente. Ela estava coberta de sangue e não percebeu que eu estava ali. Agarrei-a e a coloquei de volta no seu lugar. O presidente caiu para a esquerda, no colo da sra. Kennedy. Pude ver um grande buraco na parte superior e posterior da cabeça dele. Seus olhos estavam fixos. Com o polegar voltado para baixo, notifiquei os outros agentes do carro da escolta que a situação era muito ruim. Posicionei-me do melhor jeito que pude para evitar que outros disparos atingissem os ocupantes da limusine. O motorista acelerou rumo ao hospital.”

Silêncio quebrado. Aos 78 anos, Hill volta agora a falar do assunto por conta do lançamento do livro The Kennedy Detail, escrito por um colega seu, o também ex-agente de segurança de JFK Gerald Blaine e pela jornalista Lisa McCubbin. Ele estava calado desde 1975, quando expôs seu sofrimento numa emocionante entrevista ao jornalista Mike Wallace, do programa 60 Minutes. “Jamais discuti o assassinato com minha mulher, meus filhos ou meus netos. Em vez disso, busquei refúgio numa garrafa de bebida e nos antidepressivos. Só parei de beber em 1982 por recomendação de meu médico e faz algum tempo que não me sinto deprimido”, contou Hill ao Estado.

Naquela entrevista de 1975, entretanto, ele era um caco humano. De olhos rasos e alma pesada, disse com todas as letras a um incrédulo Wallace: “A culpa foi minha”. Ele mal prestou atenção na ressalva que o apresentador fez sobre o fato de ter sido condecorado por bravura. “Eu não dou a mínima, Mike. Se tivesse reagido um pouco mais rápido... Se eu pudesse... Eu acho... E levarei isso para a sepultura.” Hill correu a 24 km/h naquele dia – nada mal para quem estava de terno, gravata e sapato (o velocista jamaicano Usain Bolt atinge 44 km/h nos 100 metros rasos). Mas ele continua não dando a mínima. Dos 34 agentes encarregados de proteger JFK 24 horas por dia nenhum padeceu tanto pela sua morte quanto Clinton Hill. Ele só conseguiu pôr os pés em Dallas novamente em 1990, numa viagem com sua mulher. Caminhou em todos os lugares entre as Ruas Houston e Elm, palco da tragédia. Levou tudo em consideração. “E finalmente comecei a perceber que naquele dia de novembro de 1963 o atirador tinha todas as vantagens sobre nós. Contudo, eu continuava com aquele sentimento de culpa por ter falhado. Até hoje sonho com aquilo, embora menos do que antigamente.”

Hill, que deixou o serviço secreto em 1975 e tentou “uma série de negócios sem muito sucesso”, assina o prefácio e é protagonista de três capítulos do livro de Blaine. Não há revelações inéditas ali, tampouco detalhes picantes da intimidade do primeiro-casal. Para o leitor, porém, valem como ouro em pó os vívidos relatos de quem se viu engolfado pelo turbilhão. E para os agentes que se fazem ouvir vale a oportunidade de “colocar alguns pingos nos is”, como diz Blaine. Também com 78 anos e vivendo no Colorado, ele explica: “A história vem sendo contada de maneira amadora pelos adeptos da teoria da conspiração. Eles acusam os agentes de serem incompetentes e até cúmplices do assassinato de Kennedy. Segundo um levantamento do USA Today, 82% dos americanos entre 18 e 29 anos acreditam atualmente que houve uma conspiração. Se continuássemos calados, em breve ninguém mais acreditaria no que de fato ocorreu.”

Para Blaine, que se retirou do serviço secreto em 1964 e foi trabalhar como diretor de segurança da IBM, o que ocorreu foi a versão oficial mesmo: posicionado na janela do sexto andar do depósito de livros escolares de Dallas, um maluco solitário chamado Lee Harvey Oswald (que acabou morto 48 horas depois) fez todo aquele estrago na história americana. “Não houve conspiração. Nós pesquisamos tudo. Meus colegas ex-agentes foram para o porão de suas casas abrir caixas em busca de diários, anotações, relatórios. Eu mesmo passei um bocado de tempo no Arquivo Nacional pesquisando. O livro é factual de capa a capa. Escrevê-lo fez parte de nosso processo de cura, afinal nenhum de nós recebeu nenhum tipo de ajuda psicológica por parte do governo em todos esses anos.” Para os defensores da ideia de que a máfia, os exilados cubanos, os militares, a CIA e a indústria bélica se uniram para dar um golpe de Estado, eliminando Kennedy, o livro de Blaine não passa de uma tentativa de os ex-agentes tirarem o seu da reta, agora que estão no fim da vida. Blaine não encomprida o assunto: “Assassinatos são cometidos por sociopatas ou pequenos grupos radicais, não por instituições ou agências do governo”.

No dia seguinte à morte de Kennedy, Blaine já estava na Casa Branca para servir ao novo presidente, o ex-vice Lyndon Johnson. E por pouco não se viu metido num pesadelo ainda pior. É ele quem conta: “Nós não tínhamos a menor ideia do que realmente se passara em Dallas. E ainda não havia procedimentos de segurança acordados com Johnson. A tensão estava por todos os lados. À noite, ele saiu de casa para caminhar e foi para um lugar onde Kennedy não costumava ir. Ouvi um barulho, peguei minha metralhadora Thompson, destravei-a e coloquei-a em posição de tiro, com o dedo no gatilho. De repente reconheci a silhueta de Johnson na escuridão. Eu estava tão cansado que achei que podia estar tendo alucinações. Desarmei a Thompson e a deixei num canto bem longe de mim...”

Happy Birthday, Mr. President. Outra passagem da qual o ex-agente faz questão de se lembrar é onde estava quando Marilyn Monroe cantou o Parabéns a Você mais delicioso de todos os tempos, especialmente dedicado a Kennedy, o “Mr. President”, no aniversário de 45 anos dele, em 1962. Blaine estava lá, oras, no Madison Square Garden, em Nova York. “Foi uma visão que nunca vou esquecer. Ela era o sexo em pessoa. Coloquei essa história no livro porque eu estava com o presidente nas duas vezes em que ele viu Marilyn, em 1961 e 1962. E garanto que em ambas ele deixou o local antes dela.”

Clinton Hill, por sua vez, esteve sempre mais perto de Jacqueline. Ele começou no serviço secreto em 1960, como guarda-costas da sogra do Mr. President da vez, Dwight Eisenhower. Quando Kennedy assumiu, um ano depois, Hill foi imediatamente designado para proteger a nova primeira-dama e seus dois filhos, Caroline e John John. Eram cinco agentes nesse trabalho. Cuidar de Jacqueline e das crianças era um serviço mais leve do que cuidar do presidente, embora JFK tivesse fama de ser cordial com os agentes (em tardes de sol insuportável, mais de uma vez ele distribuiu camisetas suas aos rapazes em Hyannis Port, a casa de verão dos Kennedys). “Com a sra. Kennedy havia mais informalidade e flexibilidade”, Hill relembra, acrescentando que, apesar disso, sempre se dirigia a ela usando “Mrs. Kennedy” e ela sempre o chamava de “Mr. Hill”. O que gerava situações e diálogos engraçados, como quando nossos congressistas resolvem se xingar tratando uns aos outros por “Vossa Excelência”. Jackie fumava escondida, diz Hill. “Muitas vezes nós estávamos no carro e ela dizia: ‘Mr. Hill, o senhor me daria um cigarro?’ Eu acendia e passava para ela. Se alguém aparecia ela passava imediatamente o cigarro para mim. Acabei me tornando um fumante.”

Um mês antes do assassinato de Kennedy, Hill estivera com Jackie num tour pelo Mediterrâneo a bordo do iate do armador grego Aristóteles Onassis, que viria a ser o segundo marido dela. Era uma viagem sara-depressão, porque a primeira-dama estava no fundo do poço depois de perder um bebê de apenas dois dias, no começo daquele ano. Hill, que abandonou seu dia de folga para correr à maternidade e chegou lá antes do presidente, escreveu: “Eu me senti como se tivesse perdido um filho meu”. A carreata em Dallas, além de completar o processo de recuperação de Jacqueline, fazia parte da primeira viagem política da primeira-dama ao lado do marido. E se tornaria a última. Hill se lembra, naquela manhã, de ter ido ao quarto dela no Hotel Texas para acompanhá-la à sala de desjejum, onde Kennedy estava discursando. “Ela estava bem disposta e ansiosa. Tinha escolhido uma roupa cor-de-rosa combinando com o chapéu, parecia muito chique.” Era a mesma roupa que Hill veria coberta de sangue horas depois, dentro da limusine presidencial. O trajeto para o hospital foi feito praticamente em silêncio. Hill conta que Jacqueline lhe pediu para tirar o paletó e cobrir a cabeça e o tórax de Kennedy. E de ter repetido baixinho para o marido morto: “Oh, Jack, o que eles fizeram? Oh, Jack, o que eles fizeram?” Clinton Hill, atormentado desde então, estava lá.


Polícia hasteia bandeira no alto do complexo do Alemão

O Globo


A polícia hasteou no início da tarde de domingo uma bandeira do Brasil no alto do teleférico do Alemão, como símbolo da ocupação do conjunto de favelas. Por volta das 9h30m deste domingo, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, informou que todo o Complexo do Alemão já estava tomado pelas polícias militar, civil e federal, além de homens das Forças Armadas. Cerca de 2.600 agentes participaram da invasão à comunidade, que começou às 8h. Os criminosos não ofereceram resistência.

Lula marca o coldre




Para quem afirmou que não indicaria ministros, e que nenhum dos atuais teria emprego garantido, Lula está se saindo bem. Já emplacou quatro e ainda quer outros dois. Se Dilma bobear, ele chegará a dez.


É guerra

É vencer ou vencer.

Com camuflagem, tanques e rendições, a ação policial e militar no Rio de Janeiro tem cada vez mais os contornos de uma guerra, não de um problema de segurança pública. Depois de tantos dias, começam também a aparecer as críticas de defensores dos direitos humanos e especialistas em segurança, como sói acontecer em qualquer combate. O único problema é que, aqui, não pode haver cessar fogo e tratado de paz. É vencer ou vencer.

E depois, como é que fica?

Aliás, mais cedo ou mais tarde os holofotes que hoje estão sobre o exército e a polícia no Rio terão de virar-se para o Poder Judiciário. Afinal, não adianta só prender, tem de fazer direito, cumprindo a lei, investigando, instruindo um processo, obtendo uma condenação. Se não for assim, a maior parte da bandidagem que foi pega nesta semana em breve estará de novo na rua, enquanto que a sanha punitiva abrirá mais um capítulo na crise pela qual o Judiciário, liderado pelo Supremo Tribunal Federal, vive.

O pior dos cenários 

Dá para imaginar o que acontecerá com o Judiciário brasileiro se alguns desses bandidos presos no Rio nesta semana conseguir levar seu caso para o STF, mas o julgamento acabar como o da Ficha Limpa, em empate e sem terminar? Por isso, pergunta-se: Lula, cadê o ministro?
   

Lula manda e desmanda na futura equipe

Apesar de o próprio Lula ter dito que Dilma tem autonomia para nomear quem quiser para seu Ministério, não é isso que tem acontecido.

Por Gerson Camarotti, O Globo

Após quatro semanas de transição, o que mais chama atenção de integrantes das equipes do atual e do próximo governo é a influência total do presidente Lula, não só na condução política com os aliados, mas, principalmente, na escolha dos nomes do Ministério de Dilma Rousseff.

Todos os nomes confirmados, e até os que já foram convidados, são da cota pessoal do presidente, o que tem deixado Dilma engessada.

Um ministro demonstrou surpresa com a fidelidade excessiva de Dilma a Lula.

Já no PT há o reconhecimento de que a equipe do governo Dilma terá cara, coração e alma do presidente Lula, acrescentou esse ministro.

Segundo outro interlocutor do presidente, ele estaria fazendo, com a equipe de Dilma, o que gostaria de ter feito em sua gestão. Dilma não faz nada sem consultá-lo.

Lula tem hoje uma percepção maior do que deu certo e do que pode dar muito errado. E é nessa linha que tem dado sugestões a Dilma e influído de forma decisiva em todos as decisões da presidente eleita.


sábado, 27 de novembro de 2010

Colete à prova de balas

Por Roberto Jefferson


Saindo do Rio, vamos para Brasília, pois a capital, em breve, pode virar palco de diferentes tiroteios. Tudo provocado pelo anúncio de que Dilma e Lula convidaram e convenceram Antonio Palocci a assumir a Casa Civil. O ex-ministro da Fazenda e coordenador da campanha de Dilma queria uma pasta mais discreta, mas acabou aceitando, pelo visto por livre e espontânea pressão, o paiol dos dois governos de Lula, de onde saíram grandes explosões. Mas o risco maior para Palocci não é a pólvora, mas as balas provenientes do fogo amigo, que já deve estar pegando em armas. Afinal, não é à toa que Palocci, inteligente que é, queria ficar longe da janela.


Dilma sem Dilma


Antonio Palocci na Casa Civil, Gilberto Carvalho na Secretaria Geral da Presidência, José Eduardo Cardozo no Ministério da Justiça. Segundo o noticiário, este será o "núcleo duro" do governo Dilma. A se confirmar, contudo, a intenção da presidente eleita de promover uma reciclagem nas funções atuais de cada pasta, desidratando seus poderes, não haverá um superministro no Palácio do Planalto. Ou seja, a presidente Dilma não terá uma Dilma em seu governo.



E viva a democracia!

A César o que é de César


Há 40 anos, havia uma condição sine qua non para ser presidente da República: possuir 4 estrelas no peito; hoje, um metalúrgico que participou da resistência contra os estrelados está para completar oito anos como chefe da Nação. Para o seu lugar, o povo escolheu uma militante que lutou e foi torturada pelo esquema militar comandado pelos mesmos generais. Quando vejo tanques Urutus da Marinha nas ruas do Rio sendo usados contra a bandidagem, e não para ameaçar trabalhadores e estudantes, não dá para não pensar: este País mudou, e para melhor.


Dilma mantém Marco Aurélio Garcia e reedita política com América do Sul

Presidente eleita vai manter o assessor especial da Presidência no cargo, dando sinais de que a relação com países como Venezuela e Bolívia, muitas vezes criticada, não será alterada; permanência de petista reforça também atual visão sobre Mercosul

Por Tânia Monteiro, de O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - A presidente eleita Dilma Rousseff decidiu manter o assessor especial internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, no mesmo cargo que ocupa hoje.

A manutenção da Garcia na cozinha do Planalto é um forte sinal da continuidade de política de boa vizinhança do Brasil com os países vizinhos, como a Venezuela, que rendeu muitas críticas à política externa do presidente Lula. A própria Dilma, embora não tenha explicitado como pretende conduzir a política externa brasileira, já manifestou apoio ao Mercosul e foi celebrada pelo venezuelano Hugo Chávez.

Será uma reedição da dobradinha Garcia-Itamaraty, que o governo considera que deu certo na administração da política externa sob Lula.

Mas, a ajuda de Marco Aurélio à Dilma não se restringe à política externa. Garcia, que foi um dos coordenadores da campanha da petista, ajudará a presidente eleita também na relação com o PT.

Itamaraty

Para o Itamaraty, no entanto, o nome que irá suceder Celso Amorim ainda não está definido. O mais cotado é Antônio Patriota, atual secretário-geral da pasta. Apesar do desejo do atual chanceler permanecer no posto, a presidente eleita confidenciou a aliados a sua disposição de substituí-lo no cargo.

Assessores de Amorim avaliam que o chanceler não está digerindo bem a sua "aposentadoria" e estaria minando até mesmo Antônio Patriota, seu pupilo, que chegou ao segundo posto do Itamaraty pelas suas mãos.

Dilma tem uma excelente relação com Patriota, que não só a assessorou como a acompanhou em diversos tipos de eventos nos Estados Unidos.

À época em que era ministra-chefe da Casa Civil Dilma chegou a ser ciceroneada por Patriota, então embaixador em Washington, em programações culturais em Nova York, onde assistiram concertos e visitaram exposições de artes plásticas. Nas Relações Exteriores, Patriota poderia ajudar a estreitar as relações entre os dois países, já que ficou dois anos servindo em Washington.

Apesar de o governo de transição estar pensando em nomes de mulheres capazes de compor o ministério, há uma forte reação corporativa a esta possibilidade. Os que pensam desta forma acham que poderia ser o momento de nomear uma mulher para secretária-geral da pasta a fim de prepará-la para, no futuro, assumir a chancelaria. Há quem aposte que, neste momento, poderiam ser escolhidas diplomatas conceituadas e experientes como Vera Machado, atual subsecretária-geral de política do Itamaraty, que já foi embaixadora no Vaticano e na Índia. Circula também o nome de Maria Luiza Viotti, embaixadora do Brasil na missão da ONU, que representou o Brasil na votação contra as sanções da ONU ao Irã, mas que é vista como mais "instável" e teria relutado até em aceitar o posto na ONU. Outra opção é Vera Pedrosa que, apesar de já ter se aposentado, tem bom trânsito com a esquerda. Ela foi subsecretária-geral de política, assim como Patriota antes de ir para Washington.

No Palácio, já foi escolhido o novo chefe do cerimonial de Dilma. Será Renato Mosca, que já serviu no Planalto em vários governos e conhece a fundo o funcionamento do setor.


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Problemas na licitação do trem-bala identificados pelo Ministério Público são apenas ponta do iceberg, alerta Otavio Leite

Gasto absurdo

O deputado Otavio Leite (RJ) disse nesta sexta-feira (26) que os problemas apontados pelo Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF/DF) na licitação da obra do trem-bala no trecho Rio de Janeiro-Campinas (SP) são apenas “a ponta de um iceberg”. O MPF recomendou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que suspenda imediatamente o procedimento para concessão de exploração do empreendimento. Segundo o órgão, falhas no estudo técnico da obra e no próprio edital de concessão podem causar, em pouco tempo, graves prejuízos aos cofres públicos. A agência tem até a próxima segunda-feira (29) para informar o MPF sobre as providências adotadas.

“Isso é apenas a ponta de um iceberg. Ao ser iniciada, a obra implicaria em uma série de aditivos contratuais terríveis que naturalmente iriam trazer para o erário público mais prejuízo”, destacou o parlamentar.

Um dos problemas identificados pelo MPF é a imprecisão da estimativa de custos do trem de alta velocidade, atualmente orçada em R$ 34 bilhões. O órgão alega que a falta de um projeto básico que forneça elementos suficientes para a caracterização da obra é ilegal e inaceitável. No período de três anos, houve um aumento de 100% na avaliação de gastos apresentada, que era de R$ 17 bilhões em 2007.

O Ministério Público Federal afirma, ainda, que o edital de concessão da ANTT adotou uma lógica controversa, que favorece o futuro concessionário – ente privado – em detrimento do poder público. Dessa forma, possibilita a apropriação do lucro apenas pelo empreendedor, compartilhando com a União o custo e eventuais prejuízos.

Para Otavio Leite, o trem de alta velocidade não é a solução para a demanda de transporte público do trecho Rio-São Paulo. De acordo com o tucano, uma obra desse porte deveria ser custeada pela iniciativa privada. “O trem-bala aparentemente se apresenta como uma solução moderna para a conexão Rio-São Paulo, mas na prática é apenas um delírio absoluto e completo. A obra é acima de tudo um gasto absurdo diante de tantas outras prioridades que o Brasil apresenta, sobretudo no transporte dos grandes centros”, criticou.

Falta de projetos impede avaliação “confiável”, diz procuradora

Com a cifra bilionária, segundo o deputado, seria possível implantar e aumentar redes de metrô nos grandes centros, construir o terceiro aeroporto de São Paulo, ampliar os terminais do Rio de Janeiro e criar mais um sistema de transporte rápido entre a Zona Oeste e a Zona Central da cidade. “Imaginar que o trem-bala será suficiente para atender a demanda futura e resolver o problema da Copa do Mundo é loucura. Não faz o menor sentido. Gastar esse volume de recursos públicos é uma irresponsabilidade e uma violência contra o interesse do povo brasileiro”, ressaltou.

O MPF também sustenta que a fragilidade dos dados atualmente disponíveis compromete a estimativa das receitas a serem geradas pelo empreendimento, causando dúvidas, inclusive, sobre a própria viabilidade da obra. De acordo com as apurações, não há estudos aprofundados acerca da demanda pelo novo serviço, tampouco uma avaliação criteriosa dos eventuais riscos, feita por instâncias independentes.

Segundo a procuradora da República Raquel Branquinho, a inexistência de projetos de engenharia detalhados, com um cenário realístico da quantidade de serviços de terraplanagem, estruturas portantes e área atingida, por exemplo, impede uma avaliação confiável do impacto sócio, econômico e ambiental causado pela obra.

De acordo com a recomendação, o Tribunal de Contas da União (TCU) não analisou questões essenciais da obra, como custo e demanda. O projeto do trem bala também não passou pelo Comitê Técnico para Projetos de Grande Vulto do Ministério do Planejamento – responsável por analisar projetos de infraestrutura acima de R$ 50 milhões – por estar incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Leilão adiado

→ A ANTT adiou nesta sexta-feira (26) o leilão de construção e operação do trem-bala. A entrega das propostas pelos grupos interessados no projeto, que estava prevista para a próxima segunda-feira (29), ficará para o dia 11 de abril de 2011. Já a abertura dos envelopes, marcada inicialmente para 16 de dezembro, ocorrerá apenas em 29 de abril de 2011.

→ Apesar da recomendação do MPF, o diretor-geral da agência reguladora, Bernardo Figueiredo, afirmou em entrevista ao ”Valor online” que o adiamento foi decidido para dar “uma maior competitividade à disputa entre os grupos internacionais”.

Diário Tucano (Reportagem: Alessandra Galvão/Foto: Eduardo Lacerda/Áudio: Elyvio Blower)


Para escolher os novos nomes da sua equipe, Dilma espera Lula e o PT

Definido último formato para primeiro escalão do governo de Dilma Rousseff

O Globo - Por Gerson Camarotti

Palocci deve ocupar Casa Civil e Paulo Bernardo, o Ministério das Comunicações

BRASÍLIA - No último formato desenhado para o primeiro escalão de seu governo, a presidente eleita, Dilma Rousseff, definiu o futuro do atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo: cotado inicialmente para ocupar um cargo no Palácio do Planalto, ele deverá comandar o Ministério das Comunicações, para tocar o Plano Nacional de Banda Larga, o programa de universalização de acesso à internet em alta velocidade. E fará também a mediação do governo com as empresas de mídia. Para a definição de outros ministérios importantes, como o da Defesa e o da Educação, Dilma ainda precisa chegar a um entendimento com o presidente Lula e com seu partido, o PT.

Lula ainda não desistiu de convencer a presidente eleita a manter o gaúcho Nelson Jobim como ministro da Defesa. Segundo relatos, Lula estaria próximo de quebrar a resistência de Dilma com o argumento de que ele foi o primeiro titular da Defesa que teve de fato ascendência sobre as Forças Armadas, e que não houve mais crise militar desde que ele tomou posse.

No caso do Ministério da Educação, Dilma já estaria cogitando manter o atual ministro Fernando Haddad, também sugerido por Lula, mas quem não gosta da ideia, neste caso, foi o PT. O partido faz lobby para ter outro petista na pasta, com a alegação de que Haddad não tem boa relação com as bancadas e prefeitos.

Palocci deverá ocupar a Casa Civil
Conforme publicou nesta quinta-feira a coluna Panorama Político do GLOBO, além do deputado Antonio Palocci na Casa Civil, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, deverá ser mantido no cargo, e o chefe de Gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, deslocado para a Secretaria-Geral da Presidência.

Quase um mês depois de eleita, Dilma anunciou até agora apenas os três principais cargos da área econômica . Para bater o martelo sobre os cargos de todos os auxiliares palacianos, ela depende ainda do modelo final que dará à estrutura dos ministérios do Planalto.

A dificuldade da presidente eleita de definir todo o seu primeiro escalão - são 37 ministérios - deve-se também à disputa entre os partidos aliados pelas pastas setoriais. Para ter Paulo Bernardo nas Comunicações, por exemplo, Dilma ainda tem que negociar com o PMDB, já que hoje esse ministério é um feudo do partido aliado.

A preferência de Dilma por uma pessoa próxima a ela nas Comunicações deve-se também a sua determinação de "moralizar os Correios", subordinado à pasta. Desde setembro, a empresa passa por uma intervenção branca. Para fazer um diagnóstico dos Correios, a pedido do Planalto, Paulo Bernardo escalou o diretor de Recursos Humanos dos Correios, Nelson Luiz Oliveira de Freitas, um ex-auxiliar seu.

Na Casa Civil, Palocci terá a função de fazer a articulação política do governo e a interlocução com setores da sociedade. Na prática, ele já tem exercido esse cargo na transição, cumprindo várias missões reservadas para a composição do governo Dilma.

O ministro Alexandre Padilha chegou a ser sugerido para a Saúde, mas deverá continuar com a função de articulador com o Congresso, com o varejo da política. Já a Secretaria-Geral permanece com o mesmo formato de hoje, com foco na interlocução com os movimentos sociais. Foi pensando nesse perfil que se escalou Gilberto Carvalho. Nos três casos, prevaleceu a opinião do presidente Lula.

E, segundo interlocutores do presidente, ele pretende influenciar Dilma ainda no caso do Ministério da Defesa. Além de autoridade em relação aos comandos das três Forças, Jobim, segundo tem dito Lula, foi o único que conseguiu dar funcionalidade à pasta, desde que ela foi criada no governo Fernando Henrique Cardoso.

O presidente decidiu apadrinhá-lo porque sabe que ele não tem apoio político de seu próprio partido, o PMDB, e nem de setores do governo. Na noite de quinta-feira, Jobim encontrou-se num restaurante de Brasília com o vice-presidente eleito, deputado Michel Temer (PMDB-SP), e o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), de quem é amigo, quando trataram do assunto. Na semana passada, Jobim foi sondado por Palocci.

Nas conversas desta semana, Lula até lembrou que "as meninas da Casa Civil sempre tiveram resistência ao nome de Jobim", numa referência à própria Dilma e às suas antigas assessoras. No Planalto, todos reconhecem que Jobim e Dilma, além de temperamentos fortes, tiveram divergências - quando, por exemplo, o ministro da Defesa tomou partido dos militares e conseguiu modificar o texto original do Plano Nacional de Direitos Humanos-3, feito pela Casa Civil e que continha trechos que desagradaram aos comandantes.

Além disso, entre outras resistências de Dilma, está o fato de Jobim ser amigo pessoal do tucano José Serra. Alguns petistas, como o secretário de Comunicação do partido, deputado André Vargas (PR), chegaram a criticar publicamente Jobim por sua postura neutra na eleição. Mesmo assim, o presidente Lula tem destacado que o ministro da Defesa é um homem de Estado, e que isso é fundamental para evitar futuros problemas no governo Dilma.

Com a trinca palaciana definida, Dilma deve se concentrar na próxima semana a tratar do loteamento com os demais partidos aliados e administrar resistências e vetos das legendas.

O PDT já avisou que deseja manter o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, no cargo e deverá ser atendido, por falta de outra opção do partido. O PR não quer saber de abrir mão do Ministério dos Transportes e o PP faz forte lobby para emplacar o deputado Mário Negromonte (BA) no Ministério das Cidades.

O PSB gostaria de trocar o Ministério de Ciência e Tecnologia e recuperar o Ministério da Integração Nacional, pasta que é cobiçada pelo PMDB e pelo PT. Já o PTB tenta recuperar o Ministério do Turismo, que também é disputado pelo PT e pelo PSB. Já o PCdoB pode indicar a deputada Manuela D'Ávila (RS) para o Ministério do Esporte no lugar do ministro Orlando Silva, que se dedicaria ao comando da Autoridade Olímpica.


Trocas também no 2º escalão da Fazenda

Mantega deve substituir Nelson Barbosa e Otacílio Cartaxo

Deu em 'O Globo' - Por Martha Beck

Confirmado no cargo, o ministro Guido Mantega deverá trocar metade da equipe do segundo escalão da Fazenda, incluindo dois nomes de secretarias de ponta: Nelson Barbosa (Política Econômica) e Otacílio Cartaxo (Receita Federal).

Ele também terá de encontrar substituto para o embaixador Marcos Galvão, que ocupa a Secretaria de Assuntos Internacionais, mas que comandará a embaixada do Brasil em Tóquio.

O Tesouro Nacional permanecerá comandado por Arno Augustin, que desistiu do convite para a Secretaria de Finanças do Rio Grande do Sul.

A grande incógnita é o destino do secretário-executivo da pasta, Nelson Machado, que não conta com a simpatia da presidente eleita, Dilma Rousseff.

Machado ficou desgastado com episódios envolvendo a Receita Federal, como a desastrada gestão de Lina Vieira e a quebra de sigilo de tucanos durante a campanha presidencial.

Além de Arno, ficam no cargo Antonio Henrique da Silveira, da Secretaria de Acompanhamento Econômico, e Adriana Carvalho, chefe da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.

Antonio Henrique só sairia da Fazenda para comandar uma nova estrutura que está sendo gestada no governo: a Secretaria Especial de Aviação Civil. Sua criação ainda depende de uma decisão política, embora a nova ministra do Planejamento, Miriam Belchior, seja simpática à ideia, que partiu da própria Fazenda.


Acabou a festa


Com inflação ascendente, real supervalorizado, produção em queda, não resta outra alternativa à nova equipe econômica - Guido Mantega na Fazenda, Alexandre Tombini no BC e Miriam Belchior no Planejamento - que não seja defender a austeridade fiscal. É hora de conter os estímulos econômicos - medidas anticíclicas adotadas para superar a crise, mas que, em ano eleitoral, se estenderam por demasiado período -, corrigir desequilíbrios. Ao governo caberá cortar gastos; à população, frear o consumo; à iniciativa privada, elevar a taxa de investimento.


O amor é lindo, mas...


Já comentei aqui várias vezes o voracidade de Lula sobre o governo Dilma, indicando e emplacando nomes no ministério. Como prossegue o troca-troca, a dança das cadeiras, não custa lembrar: ninguém consegue servir a dois senhores durante todo tempo. Por enquanto, tudo são flores, mas como os interesses tendem a divergir, no futuro vai haver um racha entre lulistas e dilmistas, que tendem a crescer em número. Ou alguém aí acredita que Lula, com a sede de poder que tem - e que vem demonstrando sem nenhum constrangimento -, vai querer ficar oito anos longe do Planalto?


Dilma esquece mineiros


Dilma saiu há tanto tempo de Minas Gerais, onde nasceu, que parece ignorar os fundamentos de política, tão caros aos mineiros. Ela simplesmente não dá a menor pelota aos aliados que a ajudaram a somar mais de 58% dos votos no Estado, que é liderado pelo tucano Aécio Neves.


O bloco da oposição


Enquanto observam as movimentações do chamado blocão e as reações do PT à iniciativa do PMDB e outros partidos da base aliada, PSDB, PPS e DEM deram início às conversas sobre a criação de um bloco parlamentar para a próxima legislatura da Câmara dos Deputados.

PV, PHS e PMN também já foram sondados para aderir à iniciativa, que serviria para dar força à oposição no rateio das vagas da Mesa Diretora e das comissões temáticas da Casa. O acordo, entretanto, asseguraria a atuação autônoma dessas siglas nas votações.


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

José Serra reage

“Lula mente e deixa governo com déficit público maquiado, inflação ascendente, o maior déficit de balanço de pagamentos da história, câmbio supervalorizado e crescimento descontrolado das importações”

Por Gabriela Guerreiro, na Folha Online:

O ex-governador José Serra (PSDB) respondeu nesta quarta-feira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cobrou um pedido de desculpas do tucano pelo episódio da “bolinha de papel” durante a campanha presidencial (ver posts abaixo).

Serra disse que Lula está em campanha para 2014 ao “mentir”. já que foi de fato atingido por um objeto durante visita ao Rio de Janeiro, além de uma bolinha de papel: “Ele continua fazendo campanha, talvez já tenha começado sua campanha para 2014, e dizendo mentiras inclusive muito pouco apropriadas para a figura de um presidente da República”, afirmou.

(…)Serra disse que o petista vai deixar uma “herança bastante adversa” para sua sucessora Dilma Rousseff (PT) com problemas na economia do país. “Está deixando um grande nó para o próximo governo, um nó de difícil solução que vai custar muito caro ao país: déficit público maquiado, inflação ascendente, o maior déficit de balanço de pagamentos da nossa história, câmbio supervalorizado com o crescimento descontrolado das importações.”

O tucano classificou de “megalomaníaco” o projeto de construção do trem-bala do governo federal e se mostrou contrário à recriação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). “Essa história de que vai repartir CPMF entre governo federal, Estados e municípios é conversa.”

Serra se reuniu no Congresso com lideranças do PSDB na Câmara e no Senado para fazer um balanço da campanha eleitoral.

O tucano fez mistério sobre seu futuro político ao afirmar que não tem planos para as próximas eleições. Ele negou que esteja negociando sua indicação para a presidência do PSDB ou do Instituto Teotônio Vilela, ligado ao partido. “Não estou em campanha. Estou me recuperando fisicamente da campanha, procurando trabalho, decidindo o que vou fazer para ganhar a vida. E vou continuar, como desde os 20 anos de idade, no trabalho político.”

COPA
Serra também reagiu às críticas do presidente Lula de que o governo de São Paulo atendeu a “interesses comerciais” para desistir do Morumbi para sediar a abertura da Copa de 2014. O presidente fez as críticas nesta quarta-feira durante entrevista a blogueiros.

“Ele fez promessas e mais promessas para o São Paulo, o Morumbi, e na hora “h” tirou o time. Os compromissos que o governo do Estado assumiu em relação ao estádio ele cumpriu. Aquilo que competia ao governo federal, ficou só no trololó.”

O tucano disse estar “assombrado” com a postura de um presidente “que deveria estar governando o Brasil, mas continua fazendo campanha”. “Parece que isso o Lula sabe fazer: campanha e mentir. É o que ele mais sabe fazer na vida, aparentemente.”

Serra reagiu ainda às acusações do petista de que fez uso político do acidente com o Airbus da TAM em 2007, época em que governava o Estado de São Paulo. “É um comentário muito raivoso, são muitos anos. Ele poderia perfeitamente ter tido isso há muitos anos e não o faria porque soaria como piada de mau gosto.”


Lula afirma que vai desenterrar o Mensalão

Em entrevista a blogueiros, presidente diz que vai retomar a questão após deixar o cargo


Durante a conversa, o presidente voltou a abordar a questão da regulamentação da imprensa

Em entrevista hoje a blogueiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, após deixar o governo, pretende retomar o debate sobre a crise política de 2005. "Quando eu desencarnar da Presidência, vou resgatar essa questão do mensalão no Brasil com muita profundidade", disse, de acordo com um dos entrevistadores. Lula demonstrou não estar satisfeito com os esclarecimentos sobre o caso que atingiu o Planalto e o PT no terceiro ano do primeiro mandato, avaliou o blogueiro que relatou a declaração dele. O presidente fez o comentário no momento de se despedir dos blogueiros, após uma série de críticas à imprensa.

A proposta de regulação das comunicações foi o tema predominante na entrevista. Em oito das 14 ocasiões em que perguntaram, os entrevistadores aproveitaram para fazer críticas contra jornais, revistas e TVs. Cinco perguntas foram sobre imprensa. Também foram feitas perguntas sobre o Plano Nacional dos Direitos Humanos, o massacre do Araguaia nos anos 1970, o racismo nas escolas, a reforma política, as nomeações de ministros para o Supremo Tribunal Federal, a privatização da Eletrobras, a operação Satiagraha, as eleições no Acre e a Previdência.

Lula abordou por conta própria temas como a crise do mensalão, a política externa, a tragédia com o avião da TAM, em São Paulo, em 2007, e a campanha eleitoral deste ano. O presidente disse que o tucano José Serra tinha de pedir desculpas pelo que disse após o episódio chamado de "bolinha de papel".

Depois da conversa com o presidente, o jornalista Leandro Fortes, do blog "Brasília, eu vi", observou que a predominância do tema "mídia" na entrevista ocorreu porque a maioria dos entrevistadores faz blogs voltados para debates sobre imprensa. "É um filão da blogosfera", disse. "É um assunto que uma hora vai saturar e será preciso produzir informação", avaliou. Altamiro Borges, do blog do Miro, relatou que a conversa com o presidente foi descontraída. "Ele estava bem humorado", contou. Para Borges, Lula demonstrou cuidado, mesmo na questão da regulação da mídia, para não parecer que estava dando "pitaco" no futuro governo. "Mas é um tema que não tem mais como fugir. Não podemos confundir regulação com censura."


Sobrevivência econômica

Tucanos recebem Alckmin e manifestam apoio a projetos em prol do equilíbrio financeiro dos estados

Diário Tucano/PSDB

Durante reunião com integrantes da bancada do PSDB na Liderança do partido na Câmara nesta terça-feira (23), o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, pediu apoio dos tucanos a projetos em tramitação no Congresso fundamentais para o equilíbrio financeiro dos estados. Sensíveis aos pleitos, os deputados vão atuar em prol das bandeiras dos futuros governadores.

Uma das propostas consideradas essenciais altera a Lei Kandir para evitar uma perda estimada em cerca de R$ 20 bilhões às unidades da federação relacionadas a créditos de ICMS. Como as regras atuais vigoram até 31 de dezembro, a aprovação desse projeto de lei complementar (veja íntegra) no Congresso é vital para os estados. Se isso não ocorrer, o rombo nos cofres somente de São Paulo será de R$ 7 bilhões. Para o Orçamento de 2011, o tucano afirmou que os estados defendem o mesmo valor deste ano com vistas a compensar as perdas com a isenção do ICMS provocadas pela Lei Kandir: R$ 3,9 bilhões.

Segundo Alckmin, os governadores também querem a extensão da vigência do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza. Para que isso ocorra, o Legislativo precisará aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Esses pleitos também foram levantados em reunião ocorrida na residência oficial da Presidência da Câmara, em Brasília. Pelo PSDB, também esteve presente o governador eleito por Minas Gerais, Antonio Anastasia, além de líderes partidários e ministros. Na ocasião, o próprio governo federal manifestou apoio às duas reivindicações.

Em relação a outro assunto que preocupa os estados – a PEC 300 – Alckmin defende o adiamento da votação dessa proposta, que define um piso salarial nacional para policiais e bombeiros. “Entendemos que a questão da segurança pública é absolutamente prioritária e estamos sensíveis em relação aos salários desses profissionais. Mas é preciso esperar a posse dos novos governadores e da presidente eleita para ampliar a discussão”, avaliou o tucano.

Essa PEC está parada no plenário da Câmara, onde aguarda votação em 2º turno. O líder do PSDB, deputado João Almeida (BA), deve convocar reunião da bancada para discutir o tema. Na reunião pela manhã, os governadores fizeram um apelo aos líderes partidários para adiar a votação desta proposta, até porque entendem que há realidades diferentes entre os estados e isso deve ser levado em conta.

Apesar disso, a Liderança do PDT afirmou que vai apresentar um requerimento para votar a PEC rapidamente caso seja aberta sessão extraordinária para votar os projetos pedidos pelos governadores. Nas sessões ordinárias, a Câmara precisará limpar a pauta, trancada por dez medidas provisórias.

Antes de deixar o Congresso, Alckmin se reuniu com a bancada de deputados federais de São Paulo para tratar de emendas de bancada ao Orçamento da União de 2011.


Crise de abstinência

Por Roberto Jefferson


Em conversa com jornalistas, Lula, que parece cada vez mais angustiado com a proximidade do fim do mandato, disse que pretende, a partir de 2011, "desencarnar da presidência". Pelo visto, difícil mesmo será a presidência "desencarnar" dele (segundo o "Estadão", Lula anda inaugurando até solda de tubulação...). Aliás, ele está dando toda a pinta que, a partir de 1º de janeiro, será acometido de forte crise de abstinência. Além da equipe de segurança, é bom Dilma assegurar também um bom acompanhamento médico para o futuro "cidadão" Luiz Inácio.



Senado: Dilma e PMDB querem Sarney reeleito

“Não tem outro”


A presidenta Dilma Rousseff torce pela reeleição de José Sarney na presidência do Senado, cuja experiência seria fundamental para a tranqüilidade do seu governo. “Não tem outro”, tem dito ela, em conversas sobre o assunto. O problema é o próprio Sarney, que resiste à idéia. Ele chegou a antecipar para esta coluna a decisão de não concorrer mais ao cargo: “Já dei a minha contribuição”, afirmou.


O LÍDER APOIA
O líder do PMDB, Renan Calheiros, o mais influente “eleitor” na escolha do presidente do Senado, também defende a reeleição de José Sarney.

ELA NÃO SE METE

Dilma quer a reeleição de José Sarney, mas decidiu não se meter no assunto. Prefere que os próprios senadores aliados decidam o assunto.



terça-feira, 23 de novembro de 2010

Los 'tres cerditos'

Batizados em plena campanha eleitoral e chamados oficialmente pela presidente eleita, Dilma Rousseff, na última semana, os coordenadores da transição, José Eduardo Dutra, presidente do PT, e os deputados Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo já são mundialmente conhecidos pelo apelido de "três porquinhos".

Publicada nesta terça-feira, uma reportagem do diário espanhol "El Mundo" destacou o "poder à sombra" de Dilma que os três escudeiros representam, supervisionando do "início ao fim cada jogada política" da presidente eleita.

De acordo com o diário, a alcunha de porquinhos surgiu "por um certo excesso de quilos que pode ser visto inevitavelmente em seus cintos apertados e por suas bochechas às vezes rosadas".

Cardozo assumiu de vez o apelido, atribuindo o nome dos companheiros e o seu próprio a cada um dos três personagens.

Para o deputado, "o Prático [que constrói a casa de tijolos] é o Palocci, o Heitor [que faz a casa de madeira] é o Dutra, e o Cícero [da casa de palha] sou eu".

Dutra também cedeu à brincadeira, mas com menos humor. Na semana passada afirmou em seu Twitter que estava fazendo caminhadas para perder alguns quilos e, consequentemente, o apelido.

"El Mundo" destaca que "não é por acaso que Palocci já estivesse [durante a gestão de Lula] --junto a José Dirceu e Luiz Gushiken-- e se mantenha agora no centro das decisões. Para a tranquilidade dos lulistas e inveja dos críticos o porco provisor será responsável por manter o Palácio do Planalto a salvo dos lobos", diz o jornal.

Dutra comentou a reportagem em seu Twitter, ironizando-a. "Almodóvar já me ligou. Quer filmar 'Los tres cerditos en la cacerola' ou '... en la olla'". Dutra afirma ainda que "estava demorando" para que falassem sobre o apelido e que o diário espanhol, "assim como os jornais brasileiros, não conhecem a Dilma".

De volta, Jarbas Vasconcelos (PMDB) pede ‘respeito’ a Dilma e critica Lula


Em seu primeiro discurso no Senado depois da derrota na disputa pelo governo de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB) reabriu a caixa de ferramentas.

Desejou sorte a Dilma Rousseff. Mas anunciou que, nos próximos quatro anos, fará ao governo dela a mesma oposição que fez à gestão Lula.

Num discurso apinhado de ataques a Lula, o senador sugeriu Dilma que mantenha com a oposição uma "relação de respeito".

Algo que Lula, a seu juízo, não fez. Ao contrário: "No início de seu segundo mandato, o presidente Lula fez uma encenação...”

“...Recebeu alguns integrantes da bancada de oposição, sinalizando a possibilidade de se estabelecer um diálogo civilizado...”

“...Mas, na primeira oportunidade, o presidente se dedicou ao trabalho de exterminar os parlamentares da oposição. Disse isso textualmente pelos palanques do Brasil...”

“...Lula agrediu a oposição e perseguiu seus líderes, como se vivêssemos em pleno regime autoritário".

Jarbas conserva o timbre de dissidente a despeito de seu partido, o PMDB, estar agora representado na vice-presidência da República, por meio de Michel Temer.

Ele não se emenda...


Informações extra-oficiais sobre a programação para a posse do novo governo, em 1º de janeiro, dão conta que Lula, após receber Dilma na rampa do Palácio, e de transmitir-lhe a faixa, a conduzirá ao Parlatório e - surpresa! - discursará antes dela, quebrando a tradição. Se duvidar, ele pode até deixar o Palácio do Planalto a bordo do Rolls-Royce presidencial. Ele não se emenda: além de ficar indicando nomes para o ministério de Dilma, ainda quer lhe roubar a cena principal. Se continuar assim, já-já Lula vai ser enquadrado na Lei Maria da Penha.


Serra deve assumir presidência de instituto tucano


Alternativa permite a Serra agir como oposição tucana e não afronta as resistências à ideia de abrigá-lo na presidência da legenda.

O PSDB já tem a fórmula para não entregar a presidência nacional do partido ao candidato derrotado José Serra nem tampouco forçar a aposentadoria do expoente tucano, deixando-o sem tribuna. Para preservar aquele que arrebanhou 43,7 milhões de votos e valorizar o "racha" do eleitorado pela oposição, Serra deverá assumir a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV) de estudos e pesquisas do PSDB. Esta é a alternativa que os tucanos vislumbram para reservar a Serra um espaço confortável na estrutura partidária, que lhe permita agir como oposição tucana e não afronte as resistências à ideia de abrigá-lo na presidência da legenda, como ocorreu depois da eleição de 2002.

O tucanato avalia que a saída tem múltiplas vantagens, a começar por livrar Serra do título de "candidato derrotado", conferindo-lhe um posto de "presidente" sem aprofundar o racha entre paulistas e mineiros ligados ao senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG).

Além de ser um instituto que fica acima da legenda, o ITV tem a vantagem de ser a única estrutura que tem recursos próprios, pois conta com os repasses legais e obrigatórios do partido. No cargo de presidente, Serra vai gerir um orçamento que este ano beirou os R$ 4 milhões, suficientes para contratar uma pequena equipe de assessores.

Mais que isso: no ITV, Serra terá mobilidade para viajar pelo País e comandar a tal "refundação do PSDB" sugerida por Aécio, tarefa que também poderá ocupar o presidente de honra Fernando Henrique Cardoso e o ex-presidente da legenda Tasso Jereissati, que não conseguiu se reeleger senador pelo Ceará. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

FHC refuta tese de que PSDB reproduz 'Avenida Paulista'


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso refutou ontem a ideia de que o PSDB seja um partido predominado por lideranças paulistas, o que chamou de um "slogan da oposição". Ele também classificou como "uma expressão muito forte" a tese de refundação do partido proposta pelo ex-governador mineiro e senador eleito, Aécio Neves.

Questionado se o PSDB não seria "muito Avenida Paulista", ele lembrou que o partido saiu vitorioso em oito Estados. "Isso é slogan que a oposição coloca para marcar. O PSDB teve 44% da população, você acha que isso é Avenida Paulista? Não é verdade. Isso é simplesmente uma repetição de política eleitoreira. Se fosse assim, eu não teria sido eleito presidente", reagiu FHC, que esteve em Belo Horizonte para dar uma palestra.

O ex-presidente distribuiu elogios tanto para José Serra quanto para Aécio, destacando que "não adianta ficar revolvendo o passado" sobre quem seria o melhor presidenciável tucano. "Aécio tem uma capacidade política extraordinária. Ele vai mostrar agora no Senado essa imensa capacidade política que ele tem. E o Serra mostrou que tem uma energia fantástica também", ressaltou. "Tem condições ainda. É muito cedo para pensar o que vai acontecer daqui a quatro anos." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

domingo, 21 de novembro de 2010

Saiba por que o Brasil tem o direito de saber toda a verdade sobre Dilma Roussef


Domingo, 21 de novembro de 2010

Desde o primeiro turno, o editor desta página vinha insistindo pela abrtura da caixa preta dos processos militares movidos contra Dilma Roussef e mantidos sob sigilo ilegal e inconstitucional por parte do Superior Tribunal Militar. O editor busca a verdade na informação, que não pode ser sonegada a um povo livre como o brasileiro, embora neste caso isto tenha ocorrido de forma autoritária, despótica e inaceitável. Este é um compromisso inarredável do editor.

. O povo brasileiro tinha o direito de conhecer toda a biografia de Dilma, mas antes de se decidir pela escolha do novo presidente.

. Isto não aconteceu por um ato de força do presidente do STM e porque os recursos protocolados no próprio STM e no STF, inclusive pelo editor, não foram julgados a tempo. No caso do editor, o ministro Marco Aurélio Mello simplesmente sentou em cima do pedido de liminar ao seu Mandado de Injunção e sequer examinou a petição que lhe pedia celeridade, amparada na lei que garante prioridade para ações movidas por idosos.

. O povo votou no escuro.

. Assim que as urnas mostraram os resultados, o STM abriu os arquivos, mas ainda assim só para a Folha de S. Paulo.

. As primeiras reportagens começaram a sair. Elas iluminam melhor aspectos relevantes dos anos de chumbo, porque revelam ocorrências escabrosas e violentíssimas da fase mais dura da luta armada que os diversos grupos comunistas moveram para trocar a ditadura militar pela ditadura comunista, conforme programas conhecidíssimos de organizações terroristas como a VAR-Palmares, da qual Dilma Roussef era uma dos líderes. O que vai sendo publicado, dá razão ao general Newton Cruz, que várias vezes advertiu que as esquerdas e não os militares, eram os maiores interessados em manter sepultados os arquivos da época da ditadura. É que esses arquivos revelam episódios de assassinatos, assaltos a quartéis, traições, delações e colaborações. Não existe princípio ético, moral, político ou legal que retire das informações a sua força histórica de verdade. É em respeito ao direito à liberdade de informação que tudo precisa ser desvendado e mostrado ao povo brasileiro, porque uma sociedade não alcança foros de civilização e de progresso, caso esconda o seu passado. Nem a Alemanhã de Hitler, a Rússia de Stálin e o Cambodja de Pol Pot fizeram isto. A cada personagem cabe mostrar o que é verdadeiro e o que é mentiroso nas informações reveladas, mas não lhe cabe invocar a torpeza alheia para justificar o encarceramento das informações. A consciência ética da Nação julgará os episódios que lhe forem revelados pela imprensa. Os dramas pessoais e políticos existem dos dois lados e cada um terá que enfrentá-los conforme suas circunstâncias. Aqueles que escolheram o caminho totalmente errado no combate à ditadura, como foi o caso de Dilma Roussef, poderão fazer sua própria autocrítica, como fizeram recentemente Fernando Gabeira e Aloysio Ferreira Filho, ou serão inevitavelmente confrontados com a verdade e por isto pagarão alto preço por insistirem no erro que cometeram na fase recente mais negra da vida do Brasil.


Arte de montar governo com palavras cruzadas

Por Wilson Figueiredo - Jornal do Brasil

Com um mês e pouco ao seu dispor, o presidente Lula procurou ser menos Lula do que na campanha eleitoral, e deu o peteleco na armadilha ministerial montada pelo PMDB & mais quatro, a título de oposição amiga: “Parecia que ia acontecer, mas não aconteceu”.
Valeu como atestado de óbito.

O blocão do PMDB reúne nominalmente 202 deputados, mas ainda está longe de somar a metade do rebanho da Câmara, e mais um voto, dos 513 deputados, para dispor de maioria absoluta e botar o PT de joelhos. Os cálculos ainda refletem devaneios ociosos, e a realidade, que dirá a última palavra, não disse nem a primeira. Lula está avaliando como não ficar para trás dos acontecimentos, nem se habilitar mediante reserva de mercado para 2014. Seria fazer pouco dos cidadãos.

Se ficar para trás, Lula expõe-se ao risco de colidir com as definições da sucessora, que já abateu um bom pedaço do seu débito com Lula ao perfilhar a indicação do seu ministro da Fazenda como retribuição pública e, tanto quanto possível, sem compromisso de continuísmo.

Se Dilma Rousseff e Luiz Inácio não se mantiverem juntos, a distância entre eles – que já não é a da campanha – tende a aumentar e, a partir de algum ponto, polarizar diferenças que também acabarão inconciliáveis. Não é demais, olhando pelo retrovisor, considerar que as duas candidaturas não chegarão juntas a 2014. Uma ficará pelo caminho. Ambas, por sinal, dividem os riscos de estarem à disposição dos interessados em eliminá-las pelas diferentes razões que dão à democracia o encanto de um jogo.

Lula é candidato sem alternativa. Mesmo a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição depende do imponderável (no caso, do governo que fizer). E, se não acertar com o tom adequado, terá de se contentar com um mandato. À oposição, o que sobrar.

Se Lula, já ex-presidente, quiser exercer a tutela política como fez com a candidata até aqui, terá de considerar que o eleitor se deixa levar pelas pesquisas eleitorais, mas o cidadão mantém um pé atrás em relação aos governantes. Não existe a possibilidade de exercer mandato presidencial por telefone celular. Tem de ser na primeira pessoa do singular ou na primeira do plural. Ou não será presidencialismo.

No primeiro mandato Lula não conseguiu nem arrematar seu ministério e, se não fosse José Dirceu, não teria fechado a negociação com a arraia miúda parlamentar. No segundo, dispensou o mensalão e ficou com as consequências residuais. O Lula que sai não é mais o que entrou, mas não se sabe qual dos dois é melhor. O outro será automaticamente o pior.

Nos últimos dias do governo Lula, a presidente Dilma Rousseff está aproveitando as oportunidades de dizer a que veio e, principalmente, a que não veio. Monologando em voz alta, dá a entender a Lula que era uma e agora, depois de eleita, é outra para ficar à altura das responsabilidades que compõem a sua circunstância. Não quer ouvir falar de porteira fechada e de ministério promíscuo.
Na hora de montar governos não há formulas, mas circunstâncias clareadas pelo bom-senso, que às vezes atrapalha. Uma das questões é saber de que modo processar as demissões para preencher as vagas com nomeações por outra ordem de argumentos.

Dilma começou bem e, ao se recusar a fazer palavras cruzadas com ministérios e garantir reserva de mercado ao continuísmo, evitará que seu governo venha a parecer a sombra do que a precedeu. Apontou a porta de saída à mal vestida ideia de cotas fixas como base das definições que a deixariam de mãos amarradas. Na formação de ministérios, não pode haver direito adquirido no governo anterior. Deu um chega pra lá no PMDB ao chamar seu vice para enquadrar a mania de grandeza do partido dele, não no governo dela. Foi uma lição pelo menos oportuna.


Em 8 anos, quantidade de presentes que Lula ganhou enchem 11 caminhões


Por Chico de Gois - O Globo

BRASÍLIA - Há cerca de duas semanas, os Correios entregaram no Palácio do Planalto uma caixa com um presente para o presidente Lula e outra, idêntica, para a primeira-dama Marisa Letícia. Ao abrir os pacotes, os funcionários da Diretoria de Documentação Histórica, responsável pela identificação de tudo o que envolve a Presidência, agiram tecnicamente, como de praxe, embora os objetos chamassem a atenção pelo inusitado: duas batedeiras de bolo.

Esses são pequenos exemplos dos regalos recebidos por Lula e dona Marisa desde janeiro de 2003, quando o casal se mudou para Brasília. Quando deixar o cargo, em 1º de janeiro, ele terá de levar tudo o que ganhou nestes oito anos: de objetos valiosos a pequenas lembrancinhas. No início, os objetos deverão ir para um depósito. A intenção é criar um instituto, como fez o ex-presidente Fernando Henrique.

Até sexta-feira, excluindo-se a correspondência e as mensagens eletrônicas que chegam a 642.977 textos, eram 760.440 objetos, entre presentes, arquivo audiovisual (incluindo quadros, fotos e filmes) e livros - material que vai lotar 11 caminhões.

"Quando o presidente deixa o cargo, ele é que tem de se virar para guardar tudo o que ganhou"

Pela Lei 8.394, de 30 de dezembro de 1991, editada no governo de Fernando Collor, os acervos documentais privados dos presidentes da República são propriedade do presidente, inclusive para fins de herança, doação ou venda. No caso de venda, porém, a União tem direito de preferência.

Lula e Marisa têm de retirar do Palácio da Alvorada, onde são armazenados os presentes, tudo o que receberam para desocupar o lugar para o sucessor. E aí começa a dor de cabeça: onde alojar o conteúdo de 11 caminhões?

- Costumo dizer que sou o guardador de um presente de grego - afirma Cláudio Rocha, diretor da Diretoria de Documentação Histórica. - Quando o presidente deixa o cargo, ele é que tem de se virar para guardar tudo o que ganhou e, um detalhe: sem nenhuma ajuda financeira da União.

A lista de presentes é extensa: do rei da Arábia Saudita, Abdullah Bin Abdulaziz Al-Saud, Lula recebeu uma espada em ouro vermelho, com bainha incrustada com peças de rubi, esmeralda e brilhantes. Da rainha Elizabeth, um par de taças de prata. A rainha Sílvia, da Suécia, deu um vaso de cristal, e o rei da Espanha, Juan Carlos, uma compoteira também de cristal. Há, ainda, 590 bonés, mil camisetas (85 de times de futebol) e um capacete do piloto Ayrton Senna.