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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O PSDB E O FUTURO


Afirmei num post de ontem que voltaria ao tema dos embates no tucanato e da antecipação do debate eleitoral.

A tese do governador de Minas, Aécio Neves, de que José Serra leva a disputa para a polarização — e ele, Aécio, não — é, desculpem-me seus partidários, pura espuma. A avaliação parece embutir, ademais, a admissão de que o paulista é mais tucano do que o mineiro, o que nos remete a um paradoxo interessante: o primeiro não poderia ser candidato porque muito identificado com o… seu partido? Se isso for uma interdição, o contrário disso não pode dar certo, não é? Mas isso é só a velha lógica um tanto ranzinza deste escriba. A avaliação é que é essencialmente errada.

Para ganhar, o PT polariza com qualquer um que esteja fora do seu projeto. E, se preciso, vai polarizar com Aécio. Ou ele acredita que, uma vez candidato, seria ainda tratado a rapapés e pão-de-ló? Continuaria preservado apenas se fosse visto como inviável. Se disparasse nas pesquisas, mísseis começariam a cair no seu quintal. Não há hipótese de o PT condescender com ele. Zero!!! Em muitos sentidos, Aécio é o que aquela legenda mais despreza: flana acima dos partidos; tem um nome de família; goza de prestígio imenso na imprensa (só perde para o próprio PT). Vale dizer: não é “um” inimigo enquanto não é “o” inimigo. E a máquina petista de sujar reputações é a mais bem-azeitada do país.

Mas por que escrevo isso? Para convencê-lo? Como diria Ciro Gomes, não serei eu a dar aulas ao neto de Tancredo, não é? Avô não é destino, sei, mas é fato que ele tem tino político. Sabe de tudo isso. Está muito longe de ser idiota. E isso nos propõe, então, uma questão: “O que quer Aécio?” Será que realmente acredita que pode ser o presidente já em 2011?

Vendo a forma como atua, penso, às vezes, que não. Será que também ele está no grupo que se imagina, a exemplo dos Maias, naquelas arcas que sobreviverão à hecatombe política, como no filme 2012?… Na hipótese de ser candidato, estaria ele jogando para perder, mas se consolidando como liderança nacional, preparando-se para, no futuro, embaralhar o quadro partidário ou para, sendo Serra o escolhido tucano, cristianizar o paulista em Minas? Colaboraria para o outro se esborrachar e surgiria como líder nacional do PSDB… Será?

Farei, nesse caso, a mesma pergunta que fiz para e sobre os Maias? Seria “líder” do que mesmo??? Políticos costumam gostar de historinhas, mas tendem a desprezar a história. O PT não está aí só brincando de disputar eleições. Está construindo um ente de razão. A depender do que vocês façam, senhores, eu posso lhes assegurar que vocês não estarão no convés da arca. O PT pode preservar girafa, hipopótamo, macaco, jararaca… Mas não vai querer tucano — ou gente que ambiciona vôo próprio — nem como memória empalhada da fauna.

Não há setor social que não esteja mais ou menos cooptado pelo petismo. Há não-petistas que, sem enxergar uma saída, aderem ao grupo dominante como periferia e pronto! Mas Aécio, por exemplo, não tem vocação para o arrabalde; busca ser o centro. Essa centralidade no jogo político, goste ele ou não, passa pela vitória do PSDB em 2010 — uma tarefa dificílima; postos os termos da equação na mesa, já é tarefa hercúlea para Serra, que tem o dobro de votos. Imaginem para quem se vê obrigado a entrar na campanha nacional do partido dizendo: “Talvez você não me conheça…”

“Ah, Reinaldo é serrista; Reinaldo é paulista; Reinaldo é anti-Aécio”… Quanta asneira!!! Reinaldo apenas acha essencial para a democracia a alternância de poder e acredita que, numa guerra, vence quem está mais preparado e sabe usar com eficiência as armas que tem. O petismo não admite parceiros ou sócios; só subordinados. Vejam a coisa miserável em que Lula transformou Ciro Gomes. De certo modo, o rapaz entregou ao chefe até a sua identidade política. Deixou de ser um dos “modernizadores” — lá no marketing dele — do Ceará para ser uma peça do jogo do atraso político em São Paulo. Ou alguém acha que essa mudança de domicílio honra a alta política?

O tal “filho do Brasil” tem ainda uma longa carreira política pela frente, e não existe altivez à sua volta. O esforço que setores do tucanato e do DEM fazem para atingir Serra, entendo, coloca em risco a sua (deles) própria sobrevivência política. Ninguém sabe a forma do futuro, claro! Mas é possível planejar, ao menos, a vitória. E é também possível planejar o desastre. Lula conta com um interregno Dilma e, depois, quem sabe mais uns oito aninhos. O PSDB poderia estar sonhando com 16 — e não vou me dar o trabalho de fazer a conta, né?

Claro, o jogo é cheio de incertezas; ninguém faz planos com tanta antecedência etc. Ninguém que não seja petista. O partido, escrevo isso há bem uns cinco anos, se constrói e exerce o poder para tornar as eleições nacionais meros processos homologatórios.
A tese de que a polarização serve ao PT, entendo, é só um auto-engano — eventualmente, um auto-interesse. A única maneira de não polarizar com o PT é ser engolido por ele. O correto é justamente o contrário: é polarizar! E que se note: estou me referindo ao partido de Lula, não a Lula. Ele não disputa eleições.

Diogo Mainardi escreveu em sua coluna há três semanas:

“Eu tento sabotar o PT. Como é que se sabota o PT? Atualmente, só há um jeito: unindo José Serra e Aécio Neves, em 2010.

E concluiu assim o seu texto:

Pronto: sabotei o PT. Agora só falta o PSDB sabotar o PSDB.

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