"Desfrute da viagem da vida. Você só tem uma oportunidade, tire dela o maior proveito."

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Campanha de Serra começa na frente

Do Blog de Ricardo Kotscho

Um breve balanço sobre as andanças dos dois principais candidatos neste primeiro mês de campanha presidencial nas ruas mostra o tucano José Serra na frente da petista Dilma Rousseff, não apenas nas pesquisas, mas nas estratégias adotadas por seus partidos.

As marés, neste momento, são opostas. Enquanto a de Serra sobe, no embalo de entrevistas bem planejadas e breves viagens para gravar cenas de campanha, Dilma começou sua campanha solo em maré baixa, com tropeços verbais, agenda errática, problemas na coordenação inchada e o mau uso da estrutura de internet, que mais atrapalha do que ajuda.

Na versão 2010, o ex-governador paulista aparece mais sorridente e sereno, evitando bater de frente com a popularidade do presidente Lula, que continua em alta. Para agradar às platéias, faz qualquer coisa. Na contra-mão da sua pregação em defesa de um “Estado musculoso, mas enxuto”, já prometeu a criação de dois novos ministérios, um para a segurança pública, outro para portadores de deficiência. Parece disposto a fazer concessões para assumir um perfil mais popular.

Do outro lado, Dilma ainda não conseguiu se livrar do figurino e da linguagem de tecnocrata, pouco à vontade no papel de candidata. Ninguém muda assim de um dia para outro, é claro, mas o seu comando de campanha também não ajuda a lhe facilitar a vida.

Até agora, a candidata do governo mais perdeu do que ganhou nas viagens e eventos dos quais tem participado. Ainda nesta terça-feira, ao participar de um encontro com mulheres de caminhoneiros em congresso de transportadores de carga, em Brasília, entrou em mais uma bola dividida.

O encontro foi promovido pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro, uma dissidência da Associação Brasil Caminhoneiro, que, em represália, prometeu distribuir adesivos da “Fora Dilma” aos seus 800 mil associados.

Em toda a mídia, ainda repercute a obra de jerico da sua equipe de internet, que colocou uma foto de Norma Bengell entre outras duas da candidata, para mostrar sua participação nas lutas contra a ditadura, imaginando que ninguém fosse perceber. Depois, em vez de pedir desculpas pela mancada e sair de fininho, o responsável ainda acusou a imprensa de “interpretar a montagem equivocadamente”.

Se é fato que a maior parte dos editores e colunistas da grande mídia não mostra muita simpatia pela sua candidatura, ao contrário do que acontece com José Serra, este deveria ser mais um motivo para Dilma não dar a cara a tapa, tomar mais cuidado em cada passo da campanha, planejar melhor a sua agenda.

Sem divisões internas nos partidos aliados a lhe tolher os passos, como aconteceu em 2002, agora Serra pode fazer uma campanha mais profissional, seguindo a orientação do seu marqueteiro Luiz Gonzalez, que ganhou autonomia e é quem comanda tudo, ao contrário do que acontece na campanha de Dilma. Paula Santamaria, a onipresente assessora do candidato, cuida da área de imprensa com muita competência.

João Santana, o marqueteiro do PT, teve seu papel reduzido a produtor dos programas de televisão no horário político que começa em agosto. O comando da comunicação foi entregue ao deputado estadual e jornalista Rui Falcão(PT-SP), que está montando uma superestrutura em Brasília e São Paulo, com dezenas de profissionais renomados já contratados nas diferentes áreas.

O comando político da campanha, por sua vez, está dividido entre o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, o ex-prefeito mineiro Fernando Pimentel, e os deputados federais paulistas Antonio Palocci e José Eduardo Cardoso, que nem sempre falam a mesma língua. A questão dos palanques estaduais, por exemplo, está cada vez mais confusa, com o presidente Lula tendo que intervir a toda hora, o que dificulta a montagem de uma agenda favorável para a candidata.

A campanha está só começando, todos sabemos, mas o que começa certo tem mais chances de dar certo no fim do que aquilo que começa errado, já nos ensinava o conselheiro Acácio.

Dilma agora sai de cena por dois dias para gravar imagens de um “roteiro sentimental” da sua vida, que Santana pretende utilizar nos programas de televisão. Quem sabe, o comando da campanha aproveita esta trégua sem agendas públicas da candidata para colocar ordem na casa. Ainda é tempo, mas o tempo não costuma perdoar a quem não o respeita.

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