"Desfrute da viagem da vida. Você só tem uma oportunidade, tire dela o maior proveito."

domingo, 4 de outubro de 2009

O sonho e a suspeita



A dúvida entre poder ser feliz e ver essa felicidade roubada.

Não é de hoje que o Brasil é dividido e não vai ser agora que essa divisão irá acabar. Imagino, infelizmente, que não serão as Olimpíadas que acabarão com nossas divisões.

Não se trata, somente, das divisões mais gritantes – as sociais. Até porque essas, todos que aqui nasceram e vivem, conhecem. As divisões que menciono são as derivadas dessas. A entre as pessoas que se importam com isso, as que se indignam, as que se rebelam, as indiferentes, as que seguem seus caminhos apesar delas e aquelas que cooperam para que essas divisões existam, as que são eleitas para acabar com elas e só fazem com que elas aumentem.

As reações que leio aqui no blog são variadas entre as que aplaudem e as que temem o Rio 2016; mas quero crer em um raciocínio. No fundo, mesmo aqueles que não o confessam, que insistem em ver o lado negro da questão, todos devemos ficar contentes por nosso país começar a deixar de ser visto como uma mera república de bananas, irresponsável e não sério, como dizia o estadista francês, e passar a ser reconhecido como uma potência, em mais de um quesito.

Aos poucos deixamos de ser reconhecidos só pelo futebol, pelo café, pela F1, pelo Guga, pelas pernas da Giseli, pelas travecas de Paris e Roma, pelos escândalos, pelos crimes. Aos poucos somos reconhecidos pelo trabalho, esforços e realizações, e suas conseqüências, de todos os que aqui vivem.

Se, como escrevi antes, o Nuzman, que parece não ter lá muito a simpatia do povo brasileiro, foi o coordenador desse triunfo em função da dedicação ao seu cargo, e o Lula soube tirar sua casquinha, vamos deixar algo muito bem claro. O Rio de Janeiro só ganhou pelo o que todo o Brasil vem fazendo. O Rio, a mais do que o resto do país, só tem a geografia.

O que o COI avaliou, e reconheceu, foi o peso do país Brasil como potência, algo que já começou a ficar claro na área esportiva na conquista de sediar a Copa do Mundo e vem ficando claro nas mais diversas áreas há algum tempo. E a razão para que isso aconteça não está, nem de muito longe, nas mãos de um indivíduo ou um partido.

Está mesmo é no suor, no esforço, no sacrifício, no trabalho, nos impostos de cada um de nós, esses quase 200 milhões, que levantam cada manhã e vão à luta. Isso, apesar de todas as dificuldades e todas as bandidagens – das periféricas às oficiais, das que vem das camadas mais carentes às que vem da elite oficial e podre que nos aleija.

Porque, para mim, o ponto é esse. Ter os Jogos Olímpicos em casa é lindo, maravilhoso, motivo de orgulho, uma maneira de ver nossos esforços reconhecidos pela comunidade internacional e mais uma oportunidade do que este país é realmente feito. E não estou falando de águas e montanhas e sim da nossa gente.

O duro, o medo, o receio, e imagino a razão de tanto pé atrás, é suspeitar que uma elite gananciosa, míope em qualquer assunto que não seja o próprio ego e bolso, bandida mesmo, possa querer roubar mais essa nossa conquista para tirar proveito próprio.

Realizar uma Olimpíada em casa é uma conquista positiva em mais maneiras que eu e vocês podemos hoje imaginar. Ser roubados em nossas conquistas é o que não podemos mais aturar e permitir. É essa a divisão que vejo nos comentários sobre o Rio 2016. A dúvida entre a leveza do sonho e o peso da suspeita.

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